sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, O SERVIÇO À HUMANIDADE E AS ESTAÇÕES DA VIDA

“Um chamado à prática mais universal do serviço e da ação abnegada
        
         Se quisermos avançar no caminho evolutivo, espiritual, precisamos encontrar dentro de nós esse núcleo profundo que é a alma. É o contato com ela e a inspiração dos níveis espirituais que nos permitem servir livremente, doar-nos à vida universal.
         A prática de ações abnegadas e o serviço compreendido como doação de si à meta que a alma conhece trazem o fluir de energias sublimes para a Terra. Fortalecem os ideais elevados e o altruísmo.
         Se buscamos ou escolhemos o tipo de serviço a prestar, impedimos o fluxo da energia da alma sobre os nossos corpos e, portanto, sobre a nossa ação. Quando temos uma ideia preconcebida de como servir, a alma não pode agir com liberdade; e só ela conhece o tipo de energia espiritual que pode canalizar em dado momento, e a quem dirigir essa energia.
         Lembremo-nos que, ao assumirmos uma tarefa movidos pelo impulso da alma, temos ajudas especiais. A energia espiritual começa a fluir quando entramos em quietude e em sintonia com a alma.
         Com harmonia e tranquilidade, percebemos claramente que somos meros veículos para o trabalho da alma sobre a Terra. A ação que nos cabe é permanecer em sintonia com ela e retirar da mente qualquer conceito sobre o que seria uma ação útil. Devemos abandonar toda preocupação por resultados, pois estes são sempre imprevisíveis.
         A preparação para o serviço pode ser contínua, pois sempre há o que aprender e purificar em nós mesmos. Nunca ficaremos estagnados se nos mantivermos abertos para o que há de mais elevado em nós, e se cultivarmos o desapego.
         O desapego é essencial na preparação para o serviço: desapego pelo tipo de serviço a ser prestado, desapego pelo que sucede enquanto servimos, desapegos pelos resultados – quanto mais desapegados nos mantivermos, mais clareza teremos e mais abrangente será a obra realizada por nosso intermédio. O desapego abre canais, e assim o que vem do Alto pode fluir livremente na consciência e nos corpos.
         O serviço requer outros ajustes na personalidade: no corpo físico, no emocional e no mental. Para estar bem, o corpo físico precisa de vida ritmada e de organização no tempo e no espaço. Disciplina e horários a cumprir no dia a dia ajudam a harmonizá-lo e a torná-lo receptivo à energia da alma. Além de ampliar sua capacidade, essa energia é equilibradora. O corpo emocional é trabalhado pelo cultivo sadio da devoção e da fé. Sentimentos que nos predispõem a uma vida espiritualizada, qualitativa. Nossas reações emocionais não devem prejudicar os outros, por isso precisamos invocar as energias do amor e da sabedoria, que vêm da alma, para permeá-las. As energias do amor e da sabedoria são curadoras, e o nosso nível emocional foi criado para ser veículo delas, em benefício das pessoas e do mundo.
         Quanto à mente, é ajustada quando se ocupa com ideias superiores e segue impulsos vindos da alma. A obediência a esses impulsos traz ideias claras e pensamento reunido.
         Se formos devotos das nossas melhores qualidades e obedientes aos sinais que a vida nos apresenta, e se estivermos prontos para seguir os imprevisíveis ditames da alma, seremos um bom veículo para as energias espirituais permearem a vida material. Estaremos então de fato servindo à humanidade e colaborando para que se liberte dos seus atuais condicionamentos.”

(TRIGUEIRINHO, que é escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 23 de junho de 2013, caderno O.PINIÃO, página 26).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de dezembro de 2013, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2, de autoria de HOMERO REIS, que é coach, e que merece igualmente integral transcrição:

“As estações da vida
        
         Quando eu e minha esposa chegamos em North Vancouver, Canadá, em 31 de dezembro de 2009,  demos de cara com uma cidade submersa na neve. O motorista de táxi que nos levava do aeroporto para casa comentava que o inverno seria rigoroso. “Rigoroso” me chamou a atenção considerando que, poucas horas antes, embarcara no Galeão, Rio de Janeiro, com destino ao Canadá, a uma temperatura de quase quarenta graus, no típico verão carioca. O que poderia ser rigoroso?
         Chegamos. A rua ladeada por “muralhas” de neve escondia as casas, quando o taxista parou o carro e me informou que havíamos chegado. Não consegui ver nada além de neve. O que a fé não faz!? Resoluto e determinado, enfrentei a  montanha branca e achei a porta da casa. Esta foi minha primeira experiência canadense.
         Durante as primeiras semanas, tudo aquilo foi bem emocionante. Era muito bonito ver neve em abundância, perceber a natureza em variações de cinza e ter um bom sistema de calefação. Com o passar do tempo, comecei a pensar quando é que “aquilo” iria terminar. Com mais algum tempo comecei a ter certeza de que “aquilo” não terminaria jamais. Os dias e as noites haviam se tornado num branco-sobre-branco, envolto em frio-mais-frio.
         Até que um dia a temperatura começou a subir; vagarosamente, é claro. Aos poucos os verdes começaram a aparecer, os pássaros voltaram a cantar e, como um milagre, todo o branco começou a pigmentar-se de cores sem fim, revelando uma infinidade de nuances jamais imaginada. Chegara a primavera.
         Os jardins reflorescidos tornaram-se espaços para brincadeiras, passeios, namoros ou simplesmente contemplação. Pessoas saíram de casa, apareceram nos espaços abertos e aquela cidade “fantasma” ressurge linda e colorida. Mas, assim como a neve deu lugar à primavera, o verão apareceu trazendo consigo um calor inicialmente aceitável, mas que, em breve, se tornou insuportável. Os jardins sedentos e as pessoas abafadas foram regados como se o universo se liquefizessem e as chuvas torrenciais encharcavam tudo, o tempo todo. Quando tudo isso parecia novamente insuportável, eis que surge novamente um inverno que “iria ser rigoroso”. Esse é o ciclo.
         De repente, percebi, por trás de tudo isso, uma lição de vida que precisamos aprender para atuar na perspectiva da inteligência relacional. A vida tem suas estações. Às vezes, vivemos momentos que nos parecem um eterno inverno, frio, monocromático. As noites longas e os dias curtos trazem a sensação de que nada pode ser feito. Em outros momentos a vida torna-se colorida e julgamos que tudo será sempre assim; mas, logo chegam aqueles momentos da agitação desenfreada e do calor intenso, que acabam por se liquefazer, permitindo que, novamente, o frio se instale.
         De tudo isso fica a certeza de que tudo passa e esse momento também vai passar. Aquilo que hoje nos parece enfadonho, certamente será algo de que nos lembraremos no futuro com muita saudade. Aquela incerteza do futuro, de repente se desvanecerá e a vida estará realizada. Teremos passado por ela, deixado o nosso legado, construído possibilidades para outras gerações que também viverão suas próprias estações.
         Como coach, atendo pessoas de todas as idades e fases da vida. É interessante vê-las transitar por situações tidas como insolúveis, para soluções satisfatórias. É comum ver a desesperança sucumbir diante das possibilidades; mas, é alentador acolher agora algo que no passado parecia insuportável. Com isso, brinco com meus alunos dizendo-lhes que quando não suportarem mais a universidade, estará na época de se formarem. Depois de algum tempo, os escuto dizer que “aqueles tempos acadêmicos” foram muito divertidos. Quando me casei e minha esposa engravidou, julgava que não iria dar conta daquela tarefa. Hoje, quando vejo meus netos enchendo a casa de alegria, percebo que a tarefa não foi fácil, mas foi prazerosa.
         Quando comecei minha vida profissional como auxiliar administrativo e tinha pela frente chefes e situações difíceis, às vezes parecia que jamais haveria para mim “um lugar ao sol”. Hoje, olhando para a caminhada, vejo que as diversas estações da vida foram se sucedendo numa espiral ascendente. Certamente, não foi fácil como gostaria que fosse, mas não foi impossível como julgava que seria.
         A vida nos proporciona o que somos capazes de suportar, com o desafio de exigir de nós um pouco mais de foco, persistência e esforço para nos capacitarmos a voos mais altos. Perder de vista as estações da vida é perder a beleza da vida. Julgar que a dificuldade presente será sempre presente é desfalecer prematuramente; crer que nada mudará “os tempos paradisíacos” é uma infantilidade. O ciclo da vida requer viver suas estações. Fique firme em seus propósitos, esse inverno vai passar. Contemple sua primavera e desfrute dela, porque ela também vai passar. Viva intensamente o verão, mas saiba que o outono chegará, preparando tudo e todos para um novo ciclo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, política, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa; meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade;  minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...   

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, OS NÍVEIS SUPERIORES DE CONSCIÊNCIA E OS MECÂNICOS QUE SABIAM LER

“Nos níveis superiores de consciência, encontramos a   cura
        
         Para termos condições de ajudar aos que se encontram em dificuldade, precisamos aprender a focalizar nossa consciência em níveis elevados, isentos de desarmonia. Se ficarmos excessivamente centrados em questões físicas ou em algum problema emocional ou pensamento negativo, não conseguiremos transcender a situação que necessita ajuda.
         Os estados físicos, emocionais e mentais equilibram-se quanto a atenção que damos ao nosso aspecto externo é apenas a necessária para  organizar a vida material e para usar de maneira evolutiva a energia dos sentimentos e a dos pensamentos. Quanto mais estáveis em níveis elevados, mais damos oportunidade para fatos inusitados e evolutivos sucederem nos níveis concretos. Assim, polarizados nas esferas harmoniosas do nosso ser, tornamo-nos aptos a efetivamente ajudar ao próximo e a nós mesmos.
         Portanto, se uma pessoa nos procura para tratar de seus problemas, só a ajudamos verdadeiramente quando nos conectamos internamente com níveis acima daqueles em que os ditos problemas se localizam. Mas, se ficarmos no mesmo plano dos problemas, nenhuma ajuda real poderemos prestar.
         Sem dúvida, um encontro focalizado em situações humanas pode aliviar alguma pressão interior, mas não ajudará de fato a resolver o cerne da situação da pessoa, que precisa mudar o foco de sua consciência. Sem essa reorientação e, portanto, abertura para a cura, a pessoa pode tornar-se momentaneamente mais tranquila, mas não estará realmente curada daquela situação.
         Se ouvimos outra pessoa com atenção e simultaneamente concentramo-nos num nível acima do mental pensante, - nível conhecido como supramental; - pode acontecer um trabalho profundo e oculto: as energias positivas do inconsciente são mobilizadas e começam a atuar. Durante o encontro, nada parece estar acontecendo, mas depois ela se dá conta de uma mudança em seu interior mesmo sem saber a que atribuí-la.
         Tenhamos presente que não seria bom querer conduzir o que acontece no interior de quem nos pede ajuda. Não precisaríamos pensar sobre o que fazer, e tampouco alimentar a ideia de auxiliá-la a todo custo. A ajuda real e durável torna-se possível quando dedicamos inteira atenção ao ser, porém sempre nos mantendo focalizados em um nível interior. Importante saber que não se trata de correspondermos ao que ela espera, ou de buscarmos contentá-la emocionalmente, mas de mantermos a consciência em um nível elevado durante o contato externo com ela.
         Se cultivamos essa atitude, inexplicavelmente a pessoa vai-se liberando do que a faz sofrer. É que seu apelo chega até nós, mas não é retido por nosso zelo, atenção excessiva, julgamento ou crítica; não nos envolvemos com o que está sendo dito e não reagimos. Assim, não criamos novos conflitos e a energia positiva que recebemos do Alto chega àquela alma.
         A cura vem de níveis de consciência que estão além da vida humana, em outros planos de realidade. Nada do plano físico, do plano emocional ou do mental tem verdadeiro poder de cura.
         A energia de cura não é remédio e tampouco magia. Mas, quando desce das esferas superiores ao mundo material, harmoniza tudo o que encontra.
         A cura nasce do silêncio naquele que, tendo-se esvaziado de si mesmo, se volta para o Alto e se deixa preencher pelo que lá encontra.”

(TRIGUEIRINHO, que é escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 15 de dezembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2351 – ano 46 – nº 50, de 11 de dezembro de 2013, página 30, de autoria de Cláudio de Moura Castro, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“O caso dos mecânicos que sabiam ler
        
         Segundo alguns historiadores, houve dois sacolejões maiores na história da humanidade. O resto foi tremelique. O primeiro foi a domesticação de cereais – começando com o trigo selvagem. Com isso, gerou-se uma relativa abundância de alimentos, o que permitiu às tribos, até então nômades, sedentarizar-se. As cidades trouxeram a densidade humana requerida para o fermento da criatividade e para inúmeras atividades produtivas e artísticas. Afirma-se que elas foram a grande motivação de todos os tempos. Mas a agricultura induziu o seu desenvolvimento.
         A segunda transformação drástica foi a Revolução Industrial. Um tecelão, em Constantinopla, trabalhava três horas para comprar um pão de meio quilo – o mesmo que na Roma de César. A partir de 1600, o tempo baixou para duas horas. Hoje são necessários cinco minutos. Esse espantoso salto de produtividade tornou possível oferecer a todos um padrão digno de vida.
         Mas por que a Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra, no século XVIII? Jazidas de minério de ferro e carvão mineral? Império da lei e estabilidade política? Lei de Patentes? Avanços na ciência? Ética protestante?
         Tudo isso teve peso, mas há uma nova explicação, curiosa e persuasiva (William Rosen, The Most Powerful Idea in the World). Como resultado do desenvolvimento das escolas inglesas, pela primeira vez na história apareceram mecânicos capazes de ler artigos científicos. E também de se corresponder com colegas e pesquisadores.
         Os bons mecânicos sabiam lidar com máquinas e construir toda espécie de engenhoca. Mas aos que tinham novas ideias faltavam o horizonte intelectual e a motivação para implementá-las.
         No mundo das sociedades cientificas de então, os pesquisadores elucubravam, até experimentavam, seguindo o método teórico-empírico, proposto por Bacon. Mas não sabiam fazer coisas, não conheciam a manufatura. Portanto, não puderam ir muito longe na utilização prática dos seus inventos. Os avanços do pensamento não tinham pontes para o mundo da indústria.
         Fora do Olimpo científico, na sociedade hierarquizada e rígida da época, alguns mecânicos perceberam que a Lei de Patentes era a porta que se abria para um operário mudar de vida. E, como bons protestantes, acreditavam que Deus gostava de quem ficava rico.
         É então que entram em cena os mecânicos-leitores. Na ânsia de ficarem ricos, começaram a escarafunchar o que escreviam os cientistas – como Boyle, que formulava os princípios conectando pressão, temperatura e volume. Como tinham amigos com interesses similares, trocavam cartas, discutindo seus projetos.
         Perceberam que, se inventassem, se inovassem, poderiam abrir empresas e que patentes poderiam proteger suas novidades. Um exemplo clássico foi um novo perfil no filete da rosca de um reles parafuso. O invento do senhor Joseph Whitworth é usado até hoje e foi um dos primeiros de uma série de muitos que o tornaram milionário. A sua magnífica casa virou um museu de tecnologia.
         Uma alternativa era associar-se a banqueiros. Quem passar na porta de um certo restaurante, no centro de Manchester, verá um cartaz dizendo que ali, na virada do século XX, se encontraram um mecânico e um banqueiro, com a finalidade de forjar uma sociedade. Um se chamava Rolls e o outro, Royce.
         Os tais mecânicos-leitores começam a inovar, criando bombas a vapor, teares e uma infinidade de pequenas invenções que permitem os grandes saltos subsequentes.
         O inventor do motor a vapor, James Watt, por haver feito um aprendizado em construção de instrumentos científicos, trabalhava como vidreiro da Universidade de Glasgow. Convivia, portanto, com Adam Smith e David Hume. São tais pontes com o mundo das ideias que fertilizam as inovações.
         A primeira locomotiva de sucesso (1829), chamada Rocket, embarcava mais de 1 000 patentes, registradas por mecânicos que, como Whitworth, viravam milionários.
         Portanto, mecânicos-leitores foram diretamente responsáveis por uma das mais importantes transformações da humanidade. Sugestivo, pois não?”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos (a propósito, as habituais marchas de fim de ano a Brasília... “por mais recursos...”), diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a  justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional) –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

            

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, A UNIVERSALIDADE DA LIDERANÇA, O ADVENTO E A SOLIDARIEDADE

“O significado de Mandela para o futuro da humanidade
         
         Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá, porque se transformou num arquétipo universal, do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar pólos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da África do Sul em 1994, se propôs e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do Apartheid, que desumanizava as grandes maiorias negras do país, condenando-as a não pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminação, democrática e livre.
         E conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão aí, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos.
         Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceito alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu, que quer dizer “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob o risco de dilaceração e de conflitos sem fim.
         Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima de Mandela: “Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.
         Por que a vida e a saga de Mandela fundam uma esperança no futuro da humanidade e de nossa civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar nosso futuro como espécie humana. Estamos em plena sexta grande extinção em massa. Cosmólogos e biólogos nos advertem que, a correrem as coisas como estão, chegaremos por volta do ano de 2030 à culminância desse processo de barbárie e sem esperança.
         Mandela acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da violência entre os Estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou: “Não saberia dizer como será o terceiro milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a essa indagação”.
         Face a esses cenários sombrios, Mandela responderia seguramente: sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimensão de sapiens à aquela de demens e inaugure uma nova forma de estarem juntos na mesma Casa.
         Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu: “Tenho encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página – não para esquecer esse passado, mas para não deixar que nos aprisione para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito, criadas à imagem de Deus”.
         Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos, se sem discriminações concretizarmos de fato o ubuntu.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 13 de dezembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Advento e solidariedade
        
         A preparação para o Natal, nascimento de Jesus Cristo, Salvador e Redentor da humanidade, é uma oportunidade singular de nova e adequada compreensão da vida. Não se pode vivê-la sem a luminosidade própria da fé que alimenta a luz da inteligência, garantindo um caminho de horizontes largos e belos. A Igreja Católica, sábia e pedagogicamente, convida  todos a viverem este tempo do Advento. Nas quatro semanas que antecedem o Natal, a Igreja cria oportunidades importantes para se cultivar, de maneira profunda, a escuta da Palavra de Deus e, assim, fomentar e sustentar os laços de fraternidade, capacitando cada um no exercício dos gestos de solidariedade. São incontáveis as possibilidades, pelo percurso desse caminho do Advento, preparatório para o Natal do Senhor.
         Para cada peregrino, homens e mulheres de boa vontade, desenham-se novos horizontes que qualificam a vida tão preciosa de cada um, razão pela qual Ele, Cristo Salvador, encarnou-se, igual a nós em tudo, exceto no pecado, para nos resgatar da condição de escravos e reconquistar o sentido mais autêntico de nossa liberdade. Trata-se, particularmente, de um caminho de vivência espiritual. Não pode esgotar-se simplesmente no que chama a atenção, e até alegra, pelos enfeites, luzes e cores, nem mesmo nas confraternizações. É preciso aproveitar o momento para refletir a própria interioridade, alargando esse alicerce que nos capacita para uma vida comprometida com a cidadania e com a autêntica fé professada.
         Pensando na verdadeira e real preparação para o Natal do Senhor, convido você para refletir sobre o relevante sentido de pertencimento à sociedade. Cada um olha a sua condição de cidadão, seus direitos e deveres, suas lutas e conquistas, empenhos para garantia de liberdades e de atendimento às necessidades fundamentais. Esse olhar para si, analisando projetos pessoais e familiares, institucionais e outros, nos obriga a enxergar, sobretudo neste tempo, os mais pobres e sofredores, nos diversos cenários da sociedade.
         Um dever especial, sem esquecer nenhum dos que reconhecidamente são sofredores e pobres, é lançar o olhar e unir o coração aos  que estão mais desconsiderados na sua dignidade. Refiro-me aos irmãos e irmãs nossos que estão nas ruas das cidades. Uma situação que não pode ser apenas tratada com lei e prescrições. Indispensáveis são o sentimento e o princípio humanístico da solidariedade, antídotos para ações abominavelmente higienistas. A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, em parcerias e cooperação ampla, sabe que há muito a fazer. Conhece a defasagem humanística entre a abordagem desses irmãos e irmãs e a fiscalização, como também a insuficiência de infraestrutura para processos educativos respeitosos e ações de resgate. A pastoral aponta o quanto o poder público, nossas igrejas e os setores diversos da sociedade ainda precisam se mobilizar.
         Retransmito um convite-intimação do papa Francisco, na sua recente Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: tornar realidade em nós e no nosso meio o Natal de Jesus Cristo para nos curar de indiferenças, incompetências nas respostas e incapacidade para ações prioritárias, destinadas aos mais pobres. Vamos cultivar “uma fraternidade mística e contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom”. Vamos tratar diferente, nos comprometer mais com o povo que está nas ruas e com os mais pobres. Só assim será verdade o voto de “feliz Natal” que desejamos uns aos outros. Que o propósito deste Natal seja especialmente a qualificação de todos na condição de integrantes da sociedade.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações e nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidade e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, A FORÇA DA CIVILIDADE, O PAPA FRANCISCO E O CAPITALISMO

“Pouco pode ser muito
        
         Penso na fisioterapia. O paciente está com dores, dificuldade de se movimentar, incômodos musculares ou na coluna vertebral. Posturas inadequadas ou aflições afins. O profissional lhe ensina pequenos exercícios, curtos e localizados, gestos que aparentemente nada têm a ver com seu padecer. Dia após dia você segue o roteiro que lhe foi passado. Sem arroubos, sem espetáculo, quase em silêncio, o desconforto vai desaparecendo. Isso é rotina nas clínicas de recuperação. Os pequenos atos fazem o milagre e, de repente, não há mais nenhum sofrimento.
         Penso agora na fonoaudiologia. Há uma dificuldade de se expressar, a voz não segue a vontade da mente. Ou é caso de gagueira, sons desafinados, uma série de imperfeições no vocalizar que trazem angústia, timidez, insegurança. O convívio com os semelhantes se torna quase insuportável.
         Será possível que resolverei meus problemas com esses gestuais ridículos? Falar com uma rolha na boca me fará me expressar melhor?  E esses sons que me obrigam a emitir? Mais uma vez, pequenas repetições diárias, cientificamente estudadas, transformam o aluno da primeira sessão em uma pessoa relaxada, segura, capaz de falar em público e até cantar. Não é milagre, é trabalho, fruto de muito estudo especializado. E não mais nos esquecemos.
         O que vale para essas duas profissões cabe em muitos fatos de nossa vida. Tudo que fazemos em nosso dia a dia, de carinho e afeto, de atenção para com quem é do nosso convívio pessoal ou social se reverte em nosso favor. O simples geste vale mais que uma grande bajulação. Um bom-dia, boa-tarde, obrigado, um sorriso abrem as portas do mundo para nós. Não custa nada e nos faz melhores.
         Isso serve também para a política. Um prefeito que olha com atenção paras as pequenas necessidades de sua cidade, seja cuidar da limpeza das ruas, da boa pavimentação e das necessidades primeiras  dos cidadãos, pode ser exemplo.
         Uma cidade com água e esgotos encanados e tratados tem mais valor que estátuas na praça principal ou discurso de autolouvor. Os governantes estaduais e federais, quando realmente preocupados com o bem de todos, poderiam espalhar essas miúdas ações essenciais para todo o universo por eles comandado. Nesse capítulo estão certamente as escolas e os professores, os hospitais e os médicos.
         Infelizmente, o que se vê são grandes promessas, bombásticos discursos escritos por marqueteiros e resultado quase nenhum. Pois a propaganda do que se teria feito e do que se anuncia que fará, mas nunca se realiza, é mais importante, pois significa conservar o poder que os apodrece.
         Sei que o povo sofre com isso e lamento. E tenho nojo e desprezo por essa gente que se diz mas não é republicana.”

(FERNANDO BRANT, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de dezembro de 2013, caderno CULTURA, página 8).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor do romance Minas do ouro (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Francisco e o capitalismo
        
         O papa Francisco acaba de divulgar o documento Alegria do Evangelho, no qual deixa claro a que veio. Sua voz profética incomodou a CNN, poderosa rede de comunicação dos EUA, que lhe concedeu a Medalha de Papelão, destinada àqueles que, em matéria de economia, falam bobagens.
         Quais as “bobagens” proferidas pelo papa Francisco? Julgue o leitor: “Hoje devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Essa economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na bolsa. Isso é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isso é desigualdade social.”
         “Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, em que o poderoso engole o mais fraco. Em consequência dessa situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e, depois, lançar fora. Assim teve início a cultura do ‘descartável’, que, aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente de fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não estão nela, mas fora. Os excluídos não são explorados, mas resíduos, sobras.”
         Em seguida, Francisco condena a lógica de que o livre mercado consegue, por si mesmo, promover inclusão social: “Essa opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar.”
         “Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com esse ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas essas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.”
         O papa enfatiza que os interesses do capital não podem estar acima dos direitos humanos: “Uma das causas dessa situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Êxodo 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, põe a descoberto os próprios desequilíbrios e, sobretudo, a grave carência de uma orientação antropológica que reduz o ser humano a apenas uma das suas necessidades: o consumo.”
         Sem citar o capitalismo, Francisco defende o papel do Estado como provedor social e condena a autonomia absoluta do livre mercado: “Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem-comum.”
         “Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isso vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Nesse sistema que tende a deteriorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.”
         Enfim, um profeta que põe o dedo na ferida, pois ninguém ignora que o capitalismo fracassou para dois terços da humanidade: os 4 bilhões que, segundo a ONU, vivem abaixo da linha pobreza.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidades de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômica, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, na pré-escola) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento) –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...    


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, O RECADO DE UM JOVEM, A ESPADA E A PAZ

“Recado de um jovem
        
         O painel dos leitores do jornal O Popular, prestigioso diário de Goiânia, publicou uma carta que merece ser compartilhada. O autor, Fernando Rocha Lima Nogueira, é um adolescente de 16 anos. O texto, leve e solto, pautou este artigo.
         “Tentei contar o número de mensagens que troquei hoje pelo Whatsapp, desisti, pois se tornou uma tarefa impossível. Confesso que não sei ficar em o meu telefone celular, com um carregador sempre por perto, me sinto pronto para me comunicar com o mundo, inclusive com os meus pais. Dentro de minha própria casa não tenho constrangimento em usar da tecnologia para dizer que já estou indo almoçar, ou para outro fim qualquer. Não me sinto mal por isso. Na escola, tenho como referência meus amigos, que não fazem nada muito diferente do que eu faço. Somos fruto de uma geração que cresceu maravilhada com os canais infantis de TV a cabo, game boy, PSP e wi-fi. Não aprendemos nada sozinhos. Na edição de segunda-feira 28/10/2013, João Lemes reflete sobre a comunicação dentro de casa. Acredito que não há caminho de volta, a comunicação virtual é uma realidade, mas nada, nenhuma rede social até hoje substituiu um carinho de mãe, ou boas risadas em volta da mesa de almoço, ou aquelas graças que só têm graça ao vivo e em cores”.
         Fernando deu um recado muito legal. A comunicação virtual é um fato irreversível. Mas o que dá sentido à vida não está nas plataformas digitais. Está na alegria, na graça, no carinho da família. Nada, nada mesmo, supera a força, o ímã, a magia do ambiente familiar.
         A demanda doméstica, tão bem flagrada na carta do jovem goiano, não é novidade para quem mantém contato permanente com o universo estudantil. A juventude real está identificando valores como respeito; fidelidade, família, ética. Há uma busca de âncoras morais e de normalidade afetiva.
         A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar. Mesmo os jovens que convivem com a violência doméstica consideram importante a base familiar. A relação no lar é fundamental, ainda que haja conflito. Parece paradoxal, mas é assim. Eles acham melhor ter uma família danificada do que não ter ninguém. Em casa deixaram de rotular os pais de caretas para buscarem neles a figura do companheiro. Os jovens, em numerosas pesquisas, apontam a família tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
         Alguns, no entanto, defendem um modelo de família que não bate com esse anseio dos jovens. Respeito a divergência e convivo com o contraditório. Sem problema. Mas não duvido que é na família, na família tradicional, mais do que em qualquer outro quadro de convivência, o lugar onde podem ser cultivados os valores, as virtudes e as competências que constituem o melhor fundamento da educação para a cidadania. E os jovens sabem disso.
         No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável e pela falta de vínculos, vai-se impondo a cultura da fidelidade. O tema da sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do relacionamento promíscuo e transitório. Agora, o rio está voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças a mão direita, manifestação visível de compromisso afetivo, revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em relações duradouras.
         Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam na excelência e no mérito como forma de se fazer a verdadeira revolução. Defendem o pluralismo e o debate das ideias. O pensamento divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas um corrente de pensamento.
         O mundo está mudando. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com um importante segmento do mercado de consumo editorial.”

(CARLOS ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicao no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 7 de dezembro de 2013, caderno PENSAR, página principal, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“A espada e A PAZ
        
         Jesus não é um só. Há o Jesus de Nazaré, homem pobre, trabalhador braçal, com todas as marcas de seu tempo, identificado com correntes contestadoras do domínio romano na Palestina: um ser político, de tendências revolucionárias, defensor da fé judaica. E há também Jesus, o Cristo, que depois de sua morte foi chamado de o “filho de Deus”, que está na base de uma nova religiosidade e fundou uma linhagem espiritual. Um Jesus da espada; um Jesus da paz.
         Passados mais de 2 mil anos, o primeiro Jesus, um entre muitos messias que lutaram contra Roma e morreram na cruz, se tornou apenas uma sombra, o grande mestre do cristianismo, que tem sua obra descolada das origens políticas para dar relevo à mensagem de natureza religiosa e universal. O Jesus histórico é principalmente um judeu, com as paixões e contradições de seu tempo. O Cristo que emerge dos evangelhos é um mestre espiritual pacífico, que foi afastado de seu nacionalismo judaico para ser identificado com questões que os romanos podiam aceitar sem temor de vingança pelo massacre de Jerusalém.
         Um Jesus da política e um Jesus da fé.
         Essa é a tese central do livro Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré, de Reza Aslan, livro que vem causando polêmica. A explicação do desconforto e reação iracunda de alguns leitores é, mais uma vez, política: Reza Aslan é iraniano e muçulmano. Depois de bate-bocas em programas de televisão nos Estados Unidos e rejeição por parte de críticos católicos, o autor se viu em meio a situações de preconceito que envolvem os temas ligados à sua origem e fé. Pareceu, a seus críticos, que Reza Aslan escreveu seu livro para atacar o cristianismo e enxergar nele uma matriz revolucionária que mistura política e religião, o que seria característica de sua interpretação da história. Afinal, com alguma honestidade, os muçulmanos sabem que história e religião não se separam.
         Mas reza, que foi cristão na juventude e mora em Nova York, é um especialista em história das religiões, formado em Harvard e autor de obras importantes sobre o tema. Seu livro não é um ataque a Jesus, muito menos sofre de excesso de interpretação baseado em poucos fatos. Ao contrário, trata-se de um livro de história, erudito e extremamente legível, sustentado por ampla bibliografia. Cada capítulo ganha, ao final do trabalho, um verdadeiro ensaio bibliográfico atualizado, que sustenta as afirmações e interpretações do autor.
         A busca da pluralidade de fontes se justifica. Sabemos muito pouco sobre o Jesus histórico a partir de depoimentos de seus contemporâneos. Os primeiros testemunhos escritos sobre Jesus de Nazaré vêm das epístolas de Paulo, escritas pelos menos 20 anos depois da morte de Jesus. Em seguida, vêm os evangelhos, que, com exceção de Lucas, nem seque foram escritos pela pessoa que os nomeia (um caso típico de obras pseudoepigráficas, comuns no mundo antigo) e datam de décadas depois da morte de Jesus. Em outras palavras, os evangelhos não foram escritos por testemunhas oculares das palavras e ações de seu personagem central: são obras de uma comunidade de fé. Não são fato, são reconstruções teológicas. Ou seja, eles nos dizem sobre Jesus, o Cristo, mas nada esclarecem sobre Jesus, o homem.
         Reza Aslan mostra como foram escritos os evangelhos canônicos (Marcos, Mateus, Lucas e João), expõe suas contradições, esclarece sobre as fontes (entre elas o Q), além de revelar a origem de uma verdadeira biblioteca de escritores não canônicos, sobretudo a partir do século 2, que apresentam novas perspectivas sobre a vida de Jesus de Nazaré. Mas é ao agregar outras fontes – sobre a história de Jerusalém, a religião judaica e o Império Romano – que o autor dá a dimensão de seu projeto. O que seu livro revela é uma história dos primeiros séculos, tendo Jesus como foco. De certa forma, pode-se ler Zelota como uma biografia política de Jesus e seu tempo. Mais ainda: uma investigação sobre os motivos que levaram com que o Jesus histórico fosse substituído pelo Cristo.

QUARTA FILOSOFIA O título do livro já dá uma pista. Zelota vem de zelo, uma inspiração para movimentos típicos dos judeus contrários ao domínio romano na região. Espécie de quarta filosofia – ao lado dos filisteus, saduceus e essênios –, os zelotas compunham um partido que tina um compromisso inabalável com a libertação de Israel do jugo romano e com a afirmação do Deus único dos judeus. Zelo: era isso que reivindicavam para si, um cumprimento rigoroso da Torá e a recusa a servir a qualquer outro mestre. Ser zeloso era, desta forma, seguir as pegadas dos heróis do passado.
         No entanto, o que era heroísmo para os judeus era crime para os romanos. O autor vai mostrar como se dava essa difícil convivência, com o domínio político na mão de Roma e o comando religioso a cargo do sacerdote do templo. A descrição do Templo de Jerusalém é impressionante, com sua movimentação humana, superstições, jogos de poder, fé e até centro de negócios, como um verdadeiro banco a fazer circular o dinheiro de várias regiões. O templo era ainda espaço de negociação entre o ocupante e povo subjugado, preso ainda aos pesados impostos devidos a Roma.
         Eram comuns os profetas que se insurgiam contra esta ordem. Considerados messias (a categoria abrangia centenas de pessoas dispostas a anunciar o fim do domínio romano e conclamar à revolta), esses homens eram heróis para seu povo, mas bandidos para Roma. Eram geralmente presos, torturados e mortos de forma violenta, decapitados ou crucificados. Jesus foi um desses messias. Como explica Aslan, a placa da cruz de Jesus, com os dizeres “Rei dos judeus”, não era um sarcasmo, mas uma sinalização do crime pelo qual estava sendo crucificado. O crime de Jesus foi buscar o poder político. Possivelmente, o mesmo do “bom” e do “mau” ladrão mortos a seu lado. Ladrão talvez seja uma tradução para a palavra grega lestai, que significa bandido, a mesma designação dada ao insurrecto Jesus.
         Zelota é rico em informações. O autor leva para o contexto original situações que hoje fazem parte de uma rica mitologia, como a profissão de Jesus, suas origens familiares, o local de seu nascimento, os milagres, a relação com João Batista, o poder de Herodes, o nascimento virginal, a escolha dos apóstolos, as discípulas, o debate de Jesus com os rabinos, a expulsão dos comerciantes do templo etc. Algumas palavras atribuídas a Jesus, como as proferidas acerca do poder de César (“a César o que é César, a Deus o que é de Deus”) ganham novo significado: deixam de ser um reconhecimento da separação entre matéria e espírito para se afirmar como cobrança da devolução da terra ocupada aos judeus, seus legítimos donos por determinação de Deus a seus filhos diletos. O que soava como universal era na realidade uma defesa particular da herança de um povo em sua aliança com o criador.
         Por que o Jesus que nos legou a tradição surge separado de seu povo e de suas reivindicações políticas, tão claras quando se examina a história separada das envoltórias da fé? Para Reza Aslan, depois de combater por décadas as insurreições, o governo central de Roma envia tropas que dizimam o templo e escravizam o povo, massacrando tudo que encontraram pelo caminho. Uma devastação completa, que destrói Jerusalém e expulsa seu povo da terra de seus antepassados. A partir do ano 70 d.C., exilados da terra prometida por seu Deus, os judeus passam a viver como párias e entre pagãos do Império Romano.
         Uma operação levada adiante pelos rabinos, a partir do século 2, vai criar um divórcio entre o judaísmo nacionalista messiânico (que levou à destruição de Jerusalém) e a fé judaica, que se volta para dentro, na tradição do judaísmo rabínico. O livro substitui o templo. Outro movimento vai atingir os cristãos, que para também se separar da identificação revolucionária de sua origem, e com o objetivo de afastar a violência do poder romano, passam a transformar Jesus de um judeu revolucionário em um líder espiritual pacífico. O que era de interesse político e terreno passa a ser a causa espiritual e salvação para uma outra vida. Algumas décadas depois da morte de Jesus, os seguidores não judeus de Cristo eram muito mais numerosos que os seguidores judeus. Em um século, a ligação entre judaísmo e cristianismo desapareceu.
         Zelota busca a recuperação do Jesus histórico. Para isso, com as armas da pesquisa e da interpretação, questiona superstições, limpa floreios literários, faz a genealogia de textos e dá a real dimensão ao que é fato histórico e o que é teologia e mito. Pode parecer uma empresa questionável, já que o Jesus da fé venceu e se tornou hoje a realidade para centenas de milhões de pessoas. Mas a história não precisa de outra justificativa que não a busca da verdade.
         Jesus foi um líder revolucionário – talvez o maior de todos os tempos – e um líder espiritual, ao mesmo tempo. Os dois universos não se separavam. Que o Jesus histórico, judeu, zelota e revolucionário, em sua luta permanente contra as injustiças, surja rico de significação humana é um alento a mais para quem tem fé em Jesus, o Cristo. E um exemplo a ser seguido pelos que não creem, mas querem um mundo melhor ainda nesta vida.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social;segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo;comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...