sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA E A EDUCAÇÃO PARA TODOS


“Desafios da logística
        
            Nos últimos anos, o mundo globalizado e competitivo da economia tem exigido que as empresas revisem seus planejamentos estratégicos. Entre as principais ferramentas para esse processo está a logística, segmento que é um potencial gerador de emprego e de competitividade. Ele é um ramo da administração cujas atividades estão voltadas para o planejamento da armazenagem, circulação (terra, ar e mar) e distribuição de produtos. Se quisermos que uma empresa tenha vantagem competitiva, no cenário atual, é extremamente importante investimentos em profissionais do ramo da logística. Mas como o Brasil tem se situado nesse contexto? Quais são os reais investimentos nesse segmento? O Brasil está preparado para esses novos tempos? Temos profissionais suficientes para atuar nesse setor? Esses são questionamentos válidos quando analisamos os projetos que estão a caminho. O Brasil é a bola da vez no mercado mundial. Irá sediar nos próximos anos os maiores eventos do planeta, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Esses não são os únicos nem os maiores motivos, mas são considerados importantes para que até lá estejamos estruturados para que tudo funcione com eficiência e qualidade. Precisamos melhorar muito.
         A necessidade da logística data de séculos atrás, quando o segmento estava associado apenas à atividade militar. Na preparação de uma guerra, ela já era imprescindível. Ou seja, era necessária uma organização extraordinária para que equipamentos de guerra, grandes quantidades de soldados e armamentos fossem deslocados com eficiência aos campos de combate. Mais ainda, envolvia armazenagem e distribuição de alimentos, munição e armas. O tempo passou e, nos últimos 20 anos, a logística evoluiu e chegou a empresas de todos os tamanhos. Ela é bastante ampla e inclui muito mais do que armazenagem e distribuição de produtos no mercado interno e externo. O cenário brasileiro é bom, temos um mercado aberto, uma moeda estável, superávit externo e grande aceitabilidade de investimentos externos. No ano passado, a presidente Dilma Rousseff lançou o Programa de Investimentos em Logística com objetivo de melhorar a competitividade de logística do país e beneficiar micro e pequenas empresas. Ela anunciou investimentos de R$ 133 bilhões em nove trechos de rodovias e em 12 de ferrovias. Apesar dos esforços, de acordo com especialistas, o déficit de investimentos em infraestrutura no país chega a R$ 500 bilhões.
         Esses são valores alarmantes. Ainda temos muitos desafios a enfrentar em logística. Segundo levantamentos recentes, temos mais de 150 mil pessoas trabalhando diretamente com o setor e será necessário um número 25% maior até 2014. O que preocupa os empresários é a falta de profissionais especializados disponíveis neste mercado de trabalho. Para preparar esse profissional que visa conhecer o setor e ingressar nele, já é oferecido o curso de graduação tecnológica em logística, em apenas dois anos. O curso prepara profissionais para atuar nas diversas etapas da logística, nos processos de aquisição de materiais, gestão de estoques, embalagem, armazenamento e processos de distribuição. Estamos diante de grandes desafios. Investimentos em infraestrutura, processos logísticos e capacitação de pessoas em logística são palavras de ordem para o Brasil.”
(ARIMAR COLEN GONTIJO. Professor, coordenador do curso de graduação tecnológica em logística da Faculdade Novos Horizontes, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 28 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de MARCO SILVA, que é professor, autor e doutorando em educação, e que merece igualmente integral transcrição:

“Educação para todos
        
          Nas duas últimas décadas, houve uma grande ampliação da oferta de educação para os brasileiros de até 14 anos. Dados do censo 2010 apontam que o ensino fundamental para essa parcela da população está praticamente universalizada. Entretanto, o acesso ao ensino básico não foi universalizado no Brasil. Ainda convivemos com 14 milhões de jovens e adultos analfabetos e 33 milhões que não chegaram ao quinto ano do ensino fundamental. Entre os maiores de 25 anos metade não possui o ensino fundamental completo e 65% de todos que já completaram a maioridade não têm o diploma de ensino médio.
         Em Minas, 920.134 moradores com mais de 14 anos nunca freqüentaram uma escola. Só na capital são 52.899. Dos mineiros que têm idade superior a 24 anos, 3.298.861 não completaram o ensino fundamental no estado. Em Belo Horizonte são 257.973. Apesar disso, muitas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas escolas públicas e particulares, que oferecem um serviço gratuito, são fechadas anualmente por falta de alunos.
         Isso não é sem razão. A divulgação desse serviço nos meios de comunicação é praticamente inexistente. Para atingir esses brasileiros, que não leem jornais, as campanhas em rádio e televisão não podem ser dispensadas. Essa é uma tarefa da qual os governos municipais, estaduais e federal não podem se eximir. Além disso, as próprias empresas de comunicação podem dar a sua contribuição nesse campo.
         Por outro lado, a informação apenas é insuficiente. Para voltar a estudar, é necessário que o cidadão vença o constrangimento frente às manifestações sociais, explícitas ou veladas, de reprovação. A máxima de que estudar é algo reservado exclusivamente aos mais jovens está impregnada no senso comum. Por isso, muitos adultos relatam que são desencorajados e, até, ridicularizados pelo grupo de amigos quando dizem que voltaram para a escola.
         Para superar esse tipo de preconceito a atuação de líderes sindicais, comunitários e religiosos das mais diferentes denominações vem se mostrando muito eficaz. Muitos adultos que passaram a frequentar o ensino fundamental quebrando paradigmas e superando constrangimentos, relatam que foram encorajados nas igrejas, entidades sindicais e comunitárias. É preciso que mais líderes compreendam a importância de atuar nessa perspectiva.
         Convivemos com muitos e bons exemplos de empresas que estimulam, facilitam e até investem nos trabalhadores que decidiram voltar aos bancos escolares. Entretanto, ainda existem empresários que trabalham numa direção oposta. É muito comum encontrarmos, por exemplo, relatos de funcionários que não conseguem pequenas mudanças no seu horário de trabalho para compatibilizar escola e emprego. Nem mesmo quando não há redução da carga horária ou prejuízos à funcionalidade e lucratividade da empresa. Nesse sentido, é muito importante que as federações e sindicatos empresariais demonstrem aos seus filiados mais resistentes a importância de adotar políticas de maior incentivo, viabilização da educação entre jovens e adultos.
         Com a universalização do ensino médio até 2016 para aqueles que estão na chamada faixa apropriada, como quer o Ministério da Educação, todos os brasileiros que nascem atualmente certamente terão o ensino básico. Entretanto, não se pode deixar de pensar nos milhões de filhos desta pátria que nem sequer sabem ler, escrever ou completaram as etapas básicas da escolarização.
         O artigo 208 da Constituição brasileira determina que o ensino básico deve ser ofertado inclusive aos que não tiveram acesso a ele na idade própria. Entretanto, o Estado brasileiro já demonstrou ser ineficiente para efetivar esse preceito constitucional sozinho. A saída parece estar na participação da sociedade civil organizada e de cada cidadão para garantir o direito à educação a todos os brasileiros.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade  de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados; macrodrenagem urbana; logística reversa); meio ambiente; habitação; emprego, trabalho e renda; segurança alimentar e nutricional; assistência social; previdência social; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; minas e energia; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; turismo; comunicações; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, O PRÉ-SAL, A EDUCAÇÃO E O BOM PROFESSOR


“A educação e o pré-sal

O estudo Indicadores de desenvolvimento sustentável-2012 e a Pesquisa por Amostragem de Domicílios (Pnad 2011), realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos oferecem preciosas informações para consulta e tomada de decisões. Tais publicações nos permitem cruzar inúmeros indicadores das dimensões social, econômica, ambiental e institucional. Vamos fazer aqui uma análise de um indicador da dimensão social: a taxa de escolaridade. No perfil ideal de escolaridade para um país como o Brasil, o recomendável seria que a população dedicasse de 11 a 13 anos de sua vida aos estudos, mas somente 24,5% da população brasileira com mais de 25 anos tem 11 anos ou mais de estudo. Nos Estados Unidos, para efeito comparativo, 85,3% da população tem o equivalente ao nosso ensino médio e 27,9% tem curso superior.
         Mas a realidade aqui é outra. O que faremos para reverter essa situação? Ao relacionar a taxa de escolaridade nos últimos 16 anos com outros indicadores, podemos chegar a algumas conclusões. O índice Gini, que expressa o grau de concentração de renda da distribuição do rendimento da população (quanto mais próximo de zero maior a igualdade), passou, no Brasil, de 0,592 para 0,501, um decréscimo de 15,32%; a taxa de fecundidade, de 2,5 filhos para 1,9 filhos por família, um decréscimo de 24%. Todos esses índices têm relação entre si e mostram a importância da taxa de escolaridade para a geração de riquezas e consequente bem-estar para uma nação. Outro indicador relacionado à educação é a taxa de escolarização (percentual da população que frequenta a escola na sua faixa etária). Com idade entre 15 e 17 anos, a taxa de escolarização é de 83,7%, e entre 18 e 24 anos, é de 28,9%. Isso significa que temos hoje, no Brasil – pasmem – mais de 17 milhões de jovens fora da escola. Trata-se de um desafio gigantesco que temos pela frente: colocar nossos jovens na sala de aula.
Mas o que tem a ver a escolaridade do brasileiro com royalties do petróleo do pré-sal? Vejamos. Em 2011, havia no Brasil 53,8 milhões de estudantes, sendo que a rede pública era responsável por 78% desse total. Isso nos mostra que para melhorar a educação significativamente no país é preciso mais recursos financeiros e melhor gestão sobre esse montante e sobre o sistema educacional com um todo.
O Congresso Nacional, que vem discutindo esse assunto há anos, apresentou recentemente uma proposta de distribuição dos royalties entre os governos federal, estaduais e municipais, além da destinação desses para investimentos na educação. Houve um debate nacional entre os congressistas, mas não vimos nenhuma manifestação dos professores nem de seus representantes e muito menos dos estudantes.
Se os recursos financeiros dos royalties fossem destinados à educação, tomando como base a produção anual de petróleo brasileiro, somente isso corresponderia a um acréscimo de pelo menos o equivalente a 10% do investimento brasileiro atual em educação. Sabemos que isso não é o suficiente para mudar radicalmente a educação, mas também não é pouca coisa. Sem educação não haverá desenvolvimento sustentável, nem crescimento econômico que se sustente porque não haverá sociedade justa sem oportunidades para todos. A educação é a base.”
(RONALDO GUSMÃO. Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2308 – ano 46 – nº 7, de 13 de fevereiro de 2013, páginas 80 e 81, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Como identificar um bom professor
         
          Vou fazer uma pergunta fácil: você teve algum professor especial, que fez diferença na sua vida? Se você passou mais de dez anos estudando, aposto que não apenas a resposta foi positiva, como imediatamente lhe veio à mente aquele (a) professor (a). Agora, uma pergunta mais difícil: você poderia descrever as qualidades desse professor especial, de forma que seus atributos pudessem ser copiados por todos os outros professores em atividade?
         Uma série de estudos demonstra que um bom professor exerce influência substancial sobre seus alunos, não apenas durante o período escolar mas por toda a vida. Boa educação melhora a saúde, diminui a criminalidade e aumenta o salário. Eric Hamushec, pesquisador de Stanford, calcula que um professor esteja entre os 25% do topo da categoria e que tenha uma turma de trinta alunos gera, a cada ano, um aumento na massa salarial desses alunos de quase 500 000 dólares ao longo da vida deles. O problema é que, mesmo que todos saibam intuitivamente quem é um bom professor, ainda não conseguimos explicar e decompor o seu comportamento de forma que seja possível identificar os bons profissionais, promovê-los e reproduzir a sua atuação. Os estudos estatísticos, que se valem de dados facilmente quantificáveis, nos trazem alguns bons indícios – por exemplo, a experiência do professor só importa nos dois a cinco primeiros anos de carreira; professores que faltam às aulas têm alunos que aprendem menos; professores que obtiveram notas melhores em testes padronizados, estudaram em universidades mais competitivas e têm mais habilidade verbal exercem impacto positivo sobre o aprendizado dos alunos; quanto mais sindicalizados os professores, mais elas faltam e mais insatisfeitos estão com a carreira; e professores com expectativas mais altas para seus alunos também obtêm resultados superiores. Essas são todas variáveis “de fora”; estudos mais recentes começam a entrar na escola e na sala de aula e tentam explicar os componentes de um bom professor.
         Um estudo lançado em janeiro representa um grande passo à frente (esse e todos os outros estudos citados aqui estão em www.twitter.com/gioschpe). Patrocinado pela fundação Bill & Melinda Gates, ele conseguiu criar um “mapa da mina” para a identificação de bons professores, depois de acompanhar milhares de professores e alunos em sete distritos escolares americanos (incluindo Nova York, Dallas e Denver) ao longo de três anos. Normalmente, só cito neste espaço estudos publicados em revistas acadêmicas ou simpósios, que são revisados e criticados por outros acadêmicos, porque é pequena a probabilidade de uma fundação privada reconhecer em um relatório que, “depois de três anos de esforços e milhões de dólares gastos, não encontramos nada de relevante”.  Nesse caso, porém, creio que a exceção é justificada, não apenas por se tratar de uma fundação séria, que chamou pesquisadores renomados para o trabalho, mas também por seu design inovador.
         Em 2009-2010, o estudo tentou criar instrumentos que identificassem professores competentes. Chegou a um menu de três itens: observação de professores em sala de aula, questionários preenchidos pelos alunos e ganhos dos alunos em testes padronizados, ou seja, quanto os alunos daquele determinado professor ganhavam em aprendizado de um ano a outro nesses testes (equivalente ao nosso Enem ou Prova Brasil). Fez-se um trabalho cuidadoso para estabelecer quem deveria observar os professores, quantas vezes e olhando para quais dimensões; como inquirir alunos; e, no quesito valor agregado, teve-se a precaução de controlar  uma série de variáveis dos alunos (status social, situação familiar etc.) para que se pudesse isolar a qualidade do professor, não do aluno.
         Mesmo com todos esses cuidados, ainda há muito que não sabemos nem controlamos que pode interferir nos resultados. Pode ser que os melhores alunos procurem os melhores professores, os que os melhores professores escolham dar aulas para turmas ou séries melhores, e aí o que pareceria o impacto do professor seria uma complexa interação entre professores e alunos que inviabilizaria qualquer análise. (Seria como examinar a eficácia de um médico julgando apenas a taxa de cura de seus pacientes. Se os casos mais complicados procuram os melhores médicos, ou se os melhores médicos procuram os pacientes mais intratáveis, é provável que os melhores médios e os piores tenham pacientes com expectativa de vida similar, apesar e de terem competências radicalmente distintas.) A fundação então conseguiu fazer o que se faz nas ciências exatas para isolar o efeito de uma variável: no ano seguinte, distribuiu os professores aleatoriamente. A turma a que cada um ensinaria foi totalmente determinada por sorteio. Mais de 1 000 professores, atendendo mais de    60 000 alunos, participaram. E os resultados são fascinantes.
         Em primeiro lugar, a performance esperada dos professores ficou muito próxima da performance real (ambas medidas pelo aprendizado de seus alunos). Ou seja, os professores identificados como bons através das observações de seus pares, questionários de alunos e valor agregado em anos anteriores continuaram, grosso modo, sendo bons professores ensinando a turmas aleatoriamente escolhidas.
         Em segundo lugar, foi possível sofisticar o modelo. Testaram-se quatro variações das ferramentas de avaliação dos professores, e notou-se que uma das melhores combinações era aquela que dava peso igual (33% a cada um) aos três componentes (performance em teste, observação e questionário de alunos). Quando alguns professores reclamam que é reducionismo avaliá-los somente pela performance de seus alunos em testes, aparentemente têm razão: é melhor adicionar essas duas outras variáveis. Também se testaram vários modelos diferentes de observação docente, desde aquele em que o professor é avaliado por seu diretor até versões mais complexas. Os modelos mais confiáveis se mostraram aqueles em que o professor foi avaliado por pelo menos quatro observadores, em aulas diferentes, sendo dois deles pessoas da administração da escola (é importante que seja mais de uma para evitar a influência de conflitos/preferências pessoais) e dois, outros professores, treinados para a tarefa.
         Nenhum estudo é definitivo, muito menos um feito por uma fundação, e nada garante que os mesmos achados serão encontrados no Brasil, ainda que  normalmente o que apareça nos Estados Unidos também se verifique aqui. Mas, ante o modelo atual, obviamente fracassado, em que o professor é contratado por concurso no início da carreira e depois fica esquecido em sua sala de aula, fazendo o que bem entender e sendo promovido por nível de estudo e experiência, o horizonte descortinado por essa pesquisa é bem mais promissor. Precisamos encontrar e premiar os bons professores. E ter ferramentas objetivas e mensuráveis para tirar os maus profissionais da sala de aula. Sem isso, dificilmente sairemos dessa pasmaceira.”

Eis, portanto, mais importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
      
     a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até à pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; emprego, trabalho e renda; moradia; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; sistema financeiro nacional; minas e energia; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!... 





  
        







segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, A HORA DA BARBÁRIE E A FÉ NA JUVENTUDE


“A barbárie que nos cerca
         
        Basta olhar em volta para perceber que estamos perdendo o senso de humanidade. A cobrança, cada vez mais reiterada, de atenção aos direitos humanos parece ter se tornado um brado obsessivo, uma espécie de neurose que habita a alma das pessoas inconformadas. Defender os valores universais de dignidade tem se tornado quase uma forma de assumir certa “ingenuidade” frente à complexidade do mundo. Só os puros, tolos e alienados perdem tempo com “direitos humanos”.
         Essa situação tem criado um território propício para o cinismo. Em nome de um pretenso realismo, passamos a assistir a lutas violentas como se fossem esporte sadio; a acompanhar a privação da liberdade de usuários de drogas, como se fizesse parte de uma ação protetora; assistir a filmes  verdade histórica em nome de uma ética das conveniências ideológicas, como Argo, que transforma a ação política nacionalista iraniana em puro exercício de terrorismo.
         Em cada um desses eventos a ideia de homem é jogada para fora da luz da razão em nome de uma valor exterior ao homem, quase sempre de natureza econômica. A própria economia, que já foi um refúgio da racionalidade, se perde hoje na inversão absoluta de prioridades: volatiza os empregos (e com isso as oportunidades humanas reais de uma vida digna) enquanto materializa as estratégias de rendimento em torno do mundo especulativo e rentista.
         O que mais espanta nesse cenário é a sensação de concerto, de ordenamento, de um certo cumprimento de expectativas. As pessoas, por um mecanismo decorrente do esvaziamento da política, parecem ter mergulhado numa crise de segurança que vem se firmando nos frágeis esteios que ainda restam. Assim, como a derrocada parece próxima (seu filho pode ser o próximo desempregado ou, pior ainda, o drogado da esquina), o melhor é se aferrar em certezas que partem da autoridade.
         Há uma passagem no clássico Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, que parece ter sido pensado para nosso. Alice é convidada a participar do julgamento e ouve, aos brados, a rainha mandar cortar a cabeça do acusado. Ao cobrar o julgamento, recebe como resposta: “Primeiro a sentença, depois o julgamento”. Esta é a justiça que nos acompanha hoje em dia: primeiro sentenciamos de morte, depois derramamos nossa piedade na forma de um julgamento vicário. Para o bem e para o mal. Há sentenças que condenam e que libertam.
         É assim que chamamos os usuários de drogas de bandidos ou vagabundos; tachamos os iranianos de Argo de terroristas; consideramos, na via inversa, os torturadores americanos como soldados; nomeamos os caçadores de lucro a qualquer custo (sobretudo do emprego e do pagamento de impostos) de empresários; damos aos latifundiários que envenenam a terra e a economia o título nobre de agroempresários; entronizamos os especuladores urbanos que empalidecem o horizonte como empreiteiros; elogiamos os jornalistas que mentem promovendo-os a formadores de opinião. Primeiro cortamos a cabeça, depois explicamos: é tudo para o bem da sociedade.
         O princípio de Alice é operacional em várias áreas. Ele reforça o julgamento social ao mesmo tempo que ameniza a consciência individual. No caso de usuários de crack, em vez de combater uma economia que gera excedentes descartáveis, acusamos o indivíduo de desvios morais e psicológicos. Para acolhê-los, oferecemos a internação compulsória, que nada mais é que prisão ilegal (primeiro a sentença, depois o julgamento) e que tem se mostrado ineficiente ao longos dos anos.

BELO E JUSTO A mesma lógica está presente na forma como as artes e entretenimento vêm se firmando como terreno de sedimentação da ideologia. Em Argo e A hora mais escura não é preciso muita atenção para ver como a humanidade é dividida em dois times, com nítida primazia moral de um dos lados. Tudo que é construção histórica, como mostrou Edward Said em Orientalismo,  ganha foros de naturalização no cinema americano. Os árabes são potencialmente perigosos, o islamismo é terrorista, os fins (a defesa dos interesses econômicos na região) justificam os meios (entre eles a tortura).
         Que essa lógica sirva aos interesses políticos e militares se entende, tem sido assim durante os séculos. O que chama a atenção é o fato de setores que sempre estiveram na ponta da defesa do humanismo, como a arte e o conhecimento, se tornarem hoje meros apêndices daqueles interesses. Quem imaginaria que, em 2013, fosse necessário gritar contra a tortura? Denunciar a naturalização de seu uso? Assistir impassivelmente ao seu exercício como se fosse apenas mais um dos instrumentos aptos para situações de risco?
         O que mais impressiona é o fato de ambos os filmes, Argo e A hora mais escura, se prestarem a esse papel, mesmo se tratando de produções extremamente benfeitas do ponto de vista artístico e técnico, o que explica os prêmios que vêm ganhando mundo afora. O divórcio entre ética e estética está se tornando uma clivagem. Um mundo, como queria Platão, habitado pela beleza, justiça e bondade está cada vez mais distante.”
(JOÃO PAULO. Editor de Cultura, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de fevereiro de 2013, caderno PENSAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 15 de fevereiro de 2013, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Fé na juventude

A Igreja Católica, rumo à Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio de Janeiro em julho de 2013, promove a 50ª edição da Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e Juventude”. Nesse caminho, a Igreja consolida sua opção preferencial também pelos jovens, consciente dos desafios que tem de enfrentar para renovar sua linguagem, articular seu diálogo, inserir-se nas redes sociais e garantir espaço privilegiado aos jovens na experiência do seguimento de Jesus Cristo, sua mais importante tarefa evangelizadora.
Para a Igreja Católica, particularmente no Brasil, este é um ano da juventude. As grandes metas incluem a oferta de caminhos para que os jovens experimentem o encontro pessoal com Jesus Cristo, na condição de discípulos missionários, com uma presença mais ativa nas comunidades de fé. Assim, é possível fazer crescer os dons e talentos da juventude, ampliando sua participação na busca de uma sociedade mais solidária, lugar de convivência respeitosa e comprometida com o bem comum.
Essa aposta tão importante no caminho deste tempo de quaresma está iluminada pelo horizonte comovedor e evangelicamente rico anúncio feito pelo papa Bento XVI, de que deixará o ministério petrino dia 28. Um acontecimento que remete a Igreja, de modo muito forte, pela envergadura espiritual e moral do papa, ao mais genuíno da simplicidade evangélica. As inteligências são desafiadas na busca de razões que, elaboradas, ancoram a decisão de tal porte e tão impactante. As mentes também ganham uma luminosidade incomum que exige assentamento na mais qualificada significação da condição de simples “servos da vinha do Senhor”, como o papa Bento XVI dizia no dia de sua eleição como sucessor de Pedro, em 2005.
Ainda muito importante é considerar o desafio posto a todos os que servem na Igreja, impulsionados a uma corajosa revisão na ocupação de cargos e lugares, no desempenho de responsabilidades e na coragem saudável de não gabar-se de nada e nem se considerar, absolutamente, mais importante ou privilegiado. Na apresentação de sua renúncia, o papa Bento XVI diz que, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância na vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o evangelho é necessário vigor, do corpo e do espírito.
Não há inteligência que substitua, estratégias que se equiparem ou ações políticas e diplomáticas que alcancem a estatura e força transformadora que virá sempre de que cultiva esse acenado vigor espiritual. Neste momento oportuno, a Igreja percorre o caminho rico e interpelador do tempo da quaresma, iluminada pelo brilhante testemunho de fé e de profunda intimidade com Deus, na vida e ministério do papa Bento XVI. É chamada a avaliar, compreender e dar uma resposta adequada ao tesouro inesgotável de sua fé. Entre muitos capítulos que estão sendo repassados, em busca de posturas e respostas novas, está o compromisso emanado da opção preferencial pelos jovens. A efetivação dessa aposta, indispensável, inadiável e sempre atual no caminho evangelizador da Igreja, é um enorme desafio. Supõe muitas e profundas mudanças.
O intocável tesouro da fé, buscado cada vez mais na sua riqueza inesgotável, para ser aprendido e vivido, desafia o caminho pedagógico e formativo da Igreja, exigindo mudanças iluminadas por uma compreensão capaz de produzir nova lucidez e intuir novas respostas. Não se trata apenas de multiplicar alguns eventos, retomar práticas ou simplesmente dar algumas indicações. Os desafios são amplos. A cultura midiática, por exemplo, requer um conhecimento mais apurado, com resultados na abordagem das muitas e novas linguagens, para garantir aos jovens a vivência de experiências interativas, diálogos e, particularmente, testemunhos.
Importante, sobretudo neste tempo de quaresma e na vivência da Campanha da Fraternidade, é cultivar, pela simplicidade evangélica, uma espiritualidade capaz de fortalecer sempre a opção preferencial pelos jovens.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas  e oportunas  abordagens e reflexões que acenam, em meio a maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente no mês de seus nascimento –, ate a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

         

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, UMA NOVA RELAÇÃO COM A TERRA E A QUARESMA COM ELIOT


“O legado da crise atual: rever e reinventar a nossa relação com a Terra

Nutro a convicção, partilhada por outros analistas, de que a crise sistêmica atual nos deixará como legado e desafio a urgência de repensar a nossa relação para com a Terra e os modos de produção e consumo, de reinventar uma forma de governança global e uma convivência que inclua a todos na única e mesma casa comum – o planeta. Para isso é forçoso rever conceitos que possam nos apontar um novo norte. Boa parte da crise atual deriva de premissas falsas.
O primeiro conceito a rever é o de desenvolvimento. Na prática, ele se identifica com o crescimento material expresso pelo PIB. Sua dinâmica é ser o maior possível, o que implica a exploração desapiedada da natureza e a geração de grandes desigualdades nacionais e mundiais. Importa abandonar essa compreensão quantitativa e assumir a qualitativa de desenvolvimento, bem definido pelo prêmio Nobel Amartya Sem como o “processo de expansão das liberdades substantivas”, vale dizer, a ampliação das oportunidades de modelar a própria vida e dar-lhe um sentido que valha a pena. O crescimento é imprescindível, pois é da lógica de todo ser vivo, mas só é bom a partir das interdependências das redes da vida que garantem a biodiversidade. Em vez de crescimento/desenvolvimento, deveríamos pensar numa redistribuição do que já foi acumulado.
O segundo é o manipulado conceito de sustentabilidade, que, no sistema vigente, é inalcançável. Em seu lugar, deveríamos introduzir a temática, aprovada pela ONU, dos direitos da Terra e da natureza. Se os respeitássemos, teríamos a garantia da sustentabilidade.
O terceiro é o caso de meio ambiente. Meio ambiente não existe, o que existe é o ambiente inteiro, no qual todos os seres convivem. Em vez de meio ambiente, melhor usar a expressão da Carta da Terra: comunidade de vida. Todos os seres vivos possuem o mesmo código genético de base, por isso todos são parentes. Esse olhar nos levaria a ter respeito por cada ser, pois ele tem valor em si mesmo, para além do uso humano.
O quarto conceito é o da Terra. Importa superar a visão da modernidade, que a vê apenas como realidade extensa e sem inteligência. A ciência mostrou que a Terra não só tem vida sobre ela, mas é via: é um superorganismo, Gaia, que articula o físico, o químico e as energias terrenas e cósmicas para produzir e reproduzir vida sempre. Em 2010, a ONU aprovou a denominação de Mãe Terra. Esse novo olhar nos levaria a redefinir nossa relação para com ela, não mais de exploração, mas de uso racional e de respeito.
O quinto conceito é o de ser humano. Este foi pensado na modernidade como fora e acima da natureza, “mestre e senhor” dela (Descartes). Mas o ser humano está inserido na natureza, no universo, como aquela porção da Terra que sente, pensa e ama. Essa perspectiva nos leva a assumir a responsabilidade pelo destino da Mãe Terra e de seus filhos e filhas.
O sexto conceito é o de espiritualidade. Esta foi acantonada nas religiões quando é a dimensão do profundo humano universal. A espiritualidade surge quando a consciência se percebe como parte do Todo e inclui cada ser e o inteiro universo penetrados por uma força poderosa: aquele abismo de energia, gerador de todo ser. É possível captar o elo misterioso que liga e religa todas as coisas, constituindo um cosmos e, não, um caos. A espiritualidade nos confere sentimento de veneração pela grandeza do universo e nos enche de autoestima.
Temos que mudar muito ainda para que tudo isso se torne um dado da consciência coletiva! Mas é o que deve ser. E o que deve ser tem força de realização.”
(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 8 de fevereiro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 13 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Quaresma com Eliot

Faz um tempo longo. Noviço no alto da Serra, em Belo Horizonte, pedi ao mestre dispensar-me da liturgia de quarta-feira de cinzas. Não que a soberba me assaltasse e eu quisesse evitar o selo das cinzas em minha fronte. Do pó viemos, ao pó retornaremos, bem sei. Hoje, a astrofísica o confirma: somos todos feitos de pó das estrelas, fornos nos quais se cozinha, em diferentes consistências, toda a tabela periódica dos átomos que integram a matéria do universo.
Aos 20 anos o mundo me parecia infinito. E minha vida, infinda. Para mim, o passado não existia, o presente impregnava-se de fé, o futuro se abria no par de portas destrancadas por todo o idealismo que me consumia a subjetividade.
No jardim do convento, junto à horta, da qual me tocava cuidar, recolhi-me em companhia dos versos de T.S. Eliot em Quarta-feira de cinzas. Porque eu também não espero voltar (e isso vale ainda hoje). Sobretudo agora que pertenço ao grupo etário da eterna idade – todos nós que ultrapassamos seis décadas de existência e, portanto, estamos mais próximos do fim de todos os mistérios.
“Não mais me empenho no empenho de tais coisas”. O verso de Eliot me soou como interrogação. A vida me ensinou que renúncias exigem convicções arraigadas. O jejum da quarta-feira de cinzas é muito mais do que abster-se de carne. É esperar não conhecer “a vacilante glória da hora positiva”.
Como são desafiadoras as virtudes! !Ensinai-nos a estar postos em sossego”, rogava o poeta ecoando Teresa de Ávila, Não me atrevo à santidade. O jejum da quarta-feira de cinzas ou, como outrora, exigido durante toda a quaresma, é a coragem de dizer não a tudo isso que nos esgarça, retalha, fragmenta, como se múltiplos seres se atritassem no oco de nosso ser, confundindo-nos quanto ao rumo adequado a seguir.
“Alegro-me de serem as coisas o que são.” Ser do tamanho que se é. “E rogo a Deus porque desejo esquecer essas coisas que comigo  por demais discuto, por demais explico.” Não seria o racionalismo exacerbado o principal inimigo do amor?
Ignoro se Eliot, atraído pela fé cristã, alcançou tamanha graça. Eu não. As múltiplas vozes seguem ressoando dentro de mim. Apenas me socorro no enigma intranscendente da fé e na embriaguês mística das liturgias. Penso agora nos quase 250 jovens calcinados na boate Kiss, em Santa Maria. O que faziam ali tantos jovens? Buscavam o essencial: liturgia.
A vida é insuportavelmente atrelada ao reino da necessidade. E anseia pela gratuidade. Não se vai a uma danceteria apenas em busca de música, dança, bebida e paquera. Tudo isso pode ser mais confortavelmente desfrutado na intimidade.
O que move centenas de pessoas à festa – na danceteria e na roça, no baile a rigor e no carnaval – é a imprescindível liturgia que nos faz transcender do reino da necessidade à esfera lúdica, onírica, mistérica, da gratuidade. A celebração intensa, coletiva, comunitária, a alegre confraternização que permite o descanso da razão (“senhora dos silêncios”, escreveu Eliot) e o alvorecer da emoção: “Fala sem palavra e palavra sem fala”. Naquele jardim conventual, em companhia do poeta, intuí a importância de jejuar de tudo aquilo que não alimenta o espírito. E deixar que ele se liberte no ímpeto glutão de tudo isso que ressoa no esplendor do coração, como o sentimento de pertença à natureza, à família humana, a Deus – matérias-primas da oração.
Por que então pedi dispensa da liturgia comunitária na capela e me isolei no jardim com Eliot? Não recomendou Jesus evitarmos muliplicar palavras ao orar? “Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra gasta se gastou, se a palavra inaudita e inexpressa inaudita e inexpressa permanece, então, inexpressa a palavra, ainda perdura o inaudito Verbo (...) o silente Verbo”. É o que convém buscar na quaresma e que as vítimas de Santa Maria já alcançaram: o silêncio no Verbo. Eis o paradoxo da fé e o sentido desse tempo litúrgico que precede a Páscoa.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até à pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumento o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileira e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, OS TABLETs, A ESCOLA PÚBLICA E A LUTA DE UM VENCEDOR


“TABLET invade ESCOLA PÚBLICA
     
A modernização chega às salas de aula da rede estadual de ensino. Tablets e lousas digitais farão parte este ano da realidade dos 62.541 professores do nível médio e das 3.753 escolas, que receberão ainda 3.752 lousas interativas. Os aplicativos dos equipamentos vão mudar desde a apuração da frequência dos estudantes até o conteúdo trabalhado em sala de aula. A tradicional chamada passará a ser toda informatizada e feita pelos aparelhos. Em disciplinas como física, química, matemática e português, recursos audiovisuais e didáticos sairão das telas dos eletrônicos para tornar  o aprendizado muito mais interessante.
     “O professor de determinado conteúdo poderá, por meio da capacitação ou do próprio interesse dele, descobrir e encontrar funcionalidades do aplicativo, que traz exemplos pedagógicos práticos de como ensinar”, afirma a subsecretária de Informações Educacionais da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Sônia Andere Cruz. A novidade virá acompanhada de treinamento diferenciado para os educadores familiarizados com as novas tecnologias e para aqueles que não a dominam.
     A capacitação será feita de forma regionalizada, respeitando os diferenciais de cada realidade. “A ideia é dar condições ao professor de usar tanto o laboratório de informática quanto os tablets no processo de ensino”, acrescenta Sônia. Ajudará também nesse processo de domínio do novo instrumento de trabalho um aplicativo que é uma espécie de manual de instrução para que os professores possam trabalhar.
     Por meio do tablet os educadores terão acesso também ao conteúdo do Centro de Referência Virtual do Professor (CRV), um portal educacional da SEE que compartilha e oferece novos espaços de aprendizagem. Filmes, exercícios audiovisuais, leitura, obras de referência e até análises e experiências dos professores são alguns dos exemplos do que poderá ser acessado da palma da mão. A biblioteca do CRV já alcançou a marca de 93 mil acessos diários.
     E se a ordem é entrar de vez no mundo da tecnologia, outra possibilidade é o banco de itens, com 78 mil pontos relativos a conteúdos informatizados do ensino médio e fundamental. Para este início de ano, há uma demanda de 10 mil novos itens, segundo a subsecretária. A partir disso, o professor pode gerar uma prova em poucos minutos, de acordo com sua necessidade.
     Outra novidade são as avaliações on-line. O projeto piloto foi feito no ano passado em 289 escolas de todo o estado, que deixaram para trás a rotina de rodar provas no papel. Este ano, outras 58 viverão a experiência de ter os alunos sentados em frente às máquinas para mostrar o que sabem.

CUIDADOS Apesar de a rede particular estar um pouco à frente na questão da tecnologia, a preocupação com o uso dessas ferramentas, assim como na rede estadual, também é frequente. No Colégio Magnum, no Bairro Nova Floresta, na Região Nordeste de BH, há até mesmo aplicativos que podem ser usados em celular, como o APP-prova. Trata-se de um jogo que reúne diversas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e à media que o estudante acerta as respostas, ganha pontos.
     Para o coordenador pedagógico das turmas  de 6º ano ao ensino médio da escola, Willer Mello, assim como as tecnologias digitais mudaram bruscamente, a realidade do meio educacional ao poderia ser diferente. “Elas revolucionaram nossa sociedade, quebras de paradigmas ocorreram e a educação não pode ficar fora disso. Mas a ferramenta como ela é usada fará com que seja um diferencial”, diz.
     Opinião parecida tem o professor de física do ensino médio do Colégio Loyola, Gielton de Barros Lima. Nas aulas dele, softwares trabalham a matéria de maneira dinâmica e sistemas de avaliação permitem que com apenas um clique se tenha comentários de questões e a nota. “É importante todos os professores estarem ligados nessas novidades. Mas o fato de usá-las não é garanti de nada. Uma coisa é os alunos usarem na vida deles, outra é planejar e aplicá-las de maneira pedagógica. Isso ainda é um desfio”, pondera. (Colaborou Sara Lira)”.
(JUNIA OLIVEIRA, em reportagem  publicada no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de fevereiro de 2013, caderno GERAIS, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de outra reportagem de JUNIA OLIVEIRA, na mesma página, e que merece igualmente integral transcrição:

CAMPEÃO DO ENEM

A luta de um vencedor
     
A história de um menino pobre, morador da Região Metropolitana de BH, que enfrentou todas as barreiras para estudar e agora está de viagem marcada para uma das universidades mais reconhecidas da Europa, é a prova de como, com esforço e vontade, oportunidade é a pessoa quem faz. O jovem William Teixeira Miranda, de 19 anos, teve a maior nota da última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre os estudantes da Região Sudeste. Pelo feito, ganhou uma bolsa para estudar na Universidade de Salamanca, na Espanha. Aluno do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), ele agora só pensa em concluir projetos de pesquisa, antes de dar o grande salto em sua vida.
     William faz o curso superior de engenharia de materiais no Cefet, mas se submeteu ao Enem em novembro para tentar uma vaga de seus sonhos: engenharia química na UFMG. Até segunda-feira, quando recebeu a notícia do Ministério da Educação (MEC) sobre a premiação, o plano era desistir do curso atual e fazer matrícula na UFMG. Na engenharia química, ele foi o primeiro colocado entre os cotistas que se declararam negros ou pardos e com renda familiar per capita inferior a um salário mínimo e meio – eram apenas três vagas nessa modalidade.
     Não fosse a persistência, William teria desistido em 2011, quando se formou no Cefet no curso técnico de química e, por azar, não pôde fazer o Enem. Morador de Ibirité, ele saiu de casa com três horas de antecedência, mas a forte chuva no primeiro dia do exame e um acidente na Avenida Amazonas o fizeram chegar atrasado ao Centro de BH. A prova era numa escola na Avenida Olegário Maciel e o ponto de ônibus, na Rua Guarani, bem próximo. O motorista se recusou a abrir a porta quando passou pela avenida e o tempo gasto para dar a volta fez William chegar três minutos depois de fechados os portões.
     No segundo dia, ele não desistiu, mesmo sabendo que já estava desclassificado. O jovem tirou 890 pontos na redação (num total de l mil) e errou apenas uma questão em matemática. Como passou no vestibular no Cefet, preferiu continuar. No ano passado, nova tentativa. Dessa vez, fechou a prova de redação e garantiu notas altas em todas as outras áreas.
     No ensino técnico e no superior, William se dedicou a projetos de iniciação científica e tecnológica. Parte deles foram premiações da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Fora as conquistas nas olimpíadas de outras disciplinas. Até para a Argentina ele viajou para disputar campeonatos acadêmicos.

PERSISTÊNCIA As conquistas de William são marcadas pela luta. Criado pela avó, de 64 anos, costureira e vendedora de salgados, se tornou orgulho ainda maior ao ser o primeiro da família a fazer um curso superior. Entrar no Cefet foi um desafio ao menino que estudava na Escola Estadual Imperatriz Pimenta, em Ibirité. “Os professores me diziam que eu tentaria o Cefet, mas eu nem sabia o que era isso”, lembra.
     A saga começou no 9º ano do ensino fundamental, quando não pôde se inscrever por não ter carteira de identidade. O menino começou o nível médio na Imperatriz Pimenta, e no ano seguinte, uma professora tratou de fazer a inscrição e o orientou na escolha do curso. A preparação se deu refazendo provas e pedindo aos antigos mestres que o ajudassem nas questões que não conseguia resolver.
     Vieram a primeira e a segunda chamadas e nada. A solução foi se inscrever em um edital para ocupar vagas remanescentes do 2º ano, com base apenas no histórico escolar. Mas, no dia de se matricular em uma das duas vagas de eletrotécnica, William recebeu um telefonema, o convocando em terceira chamada para estudar química. Ele até pensou ser trote. “Depois de entrar para o Cefet, vi que não podia estar em outro curso, pois esse é o curso da minha vida”, diz.
     Foi preciso apoio da assistência estudantil, uma ajuda de custo para passagens, refeições e livros. “Logo que passei minha avó ficou feliz, mas preocupada porque não sabíamos como fazer. Pode parecer bobagem, mas não teria conseguido, porque não teria dinheiro nem para comprar os livros”, conta.
     Agora é a vez de cruzar o mundo. Ele viaja em março e terá aulas de espanhol até julho, quando fará o teste de proficiência em língua espanhola. Terá uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e, depois da matrícula, será custeado pelo Santander e a Universidade de Salamanca. “Nunca esperava receber essa notícia. Vou aproveitar cada oportunidade que tiver.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas,  soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas; 
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma  manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (por exemplo, os intermináveis congestionamentos nos grandes centros urbanos e nas principais rodovias), inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (somente com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...