quarta-feira, 16 de abril de 2014

A CIDADANIA, A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO E O CLAMOR DAS RUAS POR UMA NOVA POLÍTICA

“Escolas devem formar um cidadão melhor
        
         O economista da Universidade de Chicago James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel em 2000, esteve no Brasil no último mês para participar de um seminário focado nas novas fronteiras  para a educação no século 21. O discurso de Heckman, pouco divulgado na mídia local, se revela tão provocativo quanto necessário no momento em que, diante de vexames contínuos em testes internacionais, torna-se essencial discutir a qualidade da educação no país. O que o premiado economista e tantos outros pesquisadores de ponta estão defendendo é algo que está no cerne de minha visão como educador: as escolas precisam ir além do ensino das disciplinas tradicionais. Tão importante quanto ensinar matemática e português é buscar o desenvolvimento das competências socioemocionais e as habilidades pessoais, fatores decisivos para a construção de carreiras bem-sucedidas e também para o sucesso das organizações. Falo isso com o atestado de uma vida dedicada a essas questões.
         Há 50 anos lido com educação de jovens e adultos e com formação pessoal e profissional, nas mais diversas situações: em salas de aula ou nos canteiros de obras, em empresas pequenas ou grandes grupos multinacionais, nas metrópoles ou em lugarejos só acessíveis por barcos, na floresta amazônica ou na cordilheira andina. Posso dizer com absoluta convicção que o maior problema vivido pelas organizações reside no relacionamento e na comunicação. É a carência de habilidades  interpessoais que coloca em risco inúmeras atividades e negócios. O papa até então recorrente é que isso não se ensina nas escolas, vem do berço ou da educação familiar. Essa é uma meia-verdade que não se sustenta.
         É possível não só se ensinar habilidades cognitivas como também é essencial imprimir ao processo educacional um viés humanista, que reconheça o indivíduo em sua plenitude. É possível e desejável. Ou as escolas avançam nesse aprendizado ou estaremos fadados a formar profissionais semianalfabetos em relação a comportamento, atitude, postura e ética no trabalho. Não se questiona a importância do ensino tradicional de qualidade. É fundamental formar bons técnicos e gente capacitada para entender e solucionar problemas. Quando jovens despreparados chegam ao mercado de trabalho, têm dificuldades para aprender tarefas novas e mais complexas, o que impacta diretamente a produtividade e a competitividade do país. A questão, porém, é mais profunda.
         Vivemos em um mundo de transformações vertiginosas. Valores e costumes estão em permanente questionamento. As escolas e universidades têm a dura missão de contribuir para formar não só profissionais competentes, mas, igualmente, cidadãos melhores. O investimento em uma ponta não exclui a outra, ao contrário. São as questões  comportamentais que irão influir na capacidade de enfrentar desafios e superar condições adversas, bem como na capacidade de trabalhar em grupo, no controle de emoções, no estímulo à criatividade e no grau de comprometimento, entre outros aspectos. E são os fundamentos humanistas que irão formar profissionais mais críticos, éticos e responsáveis. Os escândalos de corrupção estampados diariamente na imprensa são a antítese dessa formação.
         A educação do século 21 que o país tanto demanda passa pela repulsa a um modelo de ensino que privilegia unicamente o desempenho escolar, valorizando o sucesso a qualquer custo. Esse caminho não nos levará muito longe. Se o Brasil almeja, de fato, consolidar-se como protagonista global, é preciso reconhecer que estamos bem atrasados na reflexão sobre o que fazer para melhorar a qualidade da nossa educação.”

(ANTÔNIO WALTER DE ANDRADE NASCIMENTO. Psicólogo, educador e consultor de organizações, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 13 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 12 de abril de 2014, caderno PENSAR, página 2, coluna OLHAR,  de autoria de JOÃO PAULO, editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“A política mudou. Só os políticos não percebem
        
         A disputa eleitoral no Brasil, mesmo com a retórica cabotina que fala em pré-candidaturas, já está definida em matéria de nomes. Começar com mentiras ou meias palavras parece ter sido sempre a regra do jogo: soltam-se balões de ensaio, programam-se pesquisas, acordos são feitos e desmentidos de olho na reação do eleitor-padrão, um idiota manipulável até a raiz de sua alienação funcional. Na verdade, parece um jogo em que os jogadores estão de um lado só do campo, o dos políticos. O eleitor é apenas um enigma a ser decifrado pelos responsáveis pelo marketing.
         Sempre foi assim.
         No entanto, há novidades que não estão sendo percebidas pelos políticos profissionais e seus estafes de campanha pagos a peso de ouro: eles não são mais os donos do campo e da bola. Até a presente eleição, as campanhas não contavam com o protagonismo do eleitor. O autoritarismo da política era tão natural, que toda a discussão se dava apenas no pólo dos candidatos. O cidadão eleitor era objeto de ações pensadas para que ele desse a resposta mais adequada aos objetivos dos postulantes aos cargos.
         Sempre foi assim. Mas não é mais.
         Há várias mudanças no cenário que não estão sendo percebidas pelos antigos condutores todo-poderosos das campanhas eleitorais. Em primeiro lugar, a grande movimentação que levou milhões de pessoas às ruas de todo o mundo e, com isso, mudou o cenário político. O que os políticos não sacaram – e por isso trataram de tergiversar quando a questão da reforma política foi proposta – é que não se trata apenas de um movimento de revolta, reativo, mas de uma nova forma de organização, produtiva. Manifestações nas ruas não são apenas de protesto, mas de criação.
         A recusa em enfrentar a reforma política por parte dos políticos profissionais foi a expressão de uma cegueira voluntária e, potencialmente, suicida. Enquanto as pessoas manifestavam sua discordância com a forma de condução dos negócios públicos no país, os políticos preferiram assegurar suas posições, como se não se tratasse de algo que lhes dizia respeito. A estetização das manifestações (com elogios formais) e sua cobertura quase exclusiva no âmbito da segurança foram algumas das estratégias diversionistas que isolaram de vez os políticos tradicionais do mundo real. Certos de que sem a reforma tudo voltaria a ser como era antes, trataram de retroceder aos seus domínios naturais.
         Um aspecto que demonstra essa incompreensão do novo cenário é a relação dos candidatos com as redes sociais. Tudo o que elas apontam de novidade, horizontalidade, capacidade de organização autônoma e independência foi compreendido apenas como “oportunidade de negócio”, e não como uma nova maneira de se comunicar, que considera o discurso do outro e a abertura ao debate e à crítica, além de seu potencial de convocação, que extrapola qualquer tentativa de cerceamento. O que os m marqueteiros têm feito nada mais é que considerar as redes apenas uma mídia a mais, um território de propaganda a ser gerido com eficiência, com pleno domínio das mensagens.
         O resultado tem sido uma sucessão de equívocos. O candidato Aécio Neves, do PSDB, por exemplo, vem tentando ações de controle sobre mecanismos de busca na internet, na tentativa de vedar conteúdos que julga desabonadores. Seu direito a se defender do que considera injurioso deve ser considerado legítimo, mas a forma como está sendo feita demonstra desconhecimento do fluxo de informações em rede e a ética própria que o dirige. No atual contexto libertário da rede, vale a máxima liberal clássica (que os liberais de carteirinha parecem não compreender bem) de que o melhor argumento ganha no jogo do dissenso natural de uma sociedade complexa. Uma mentira se combate com verdade, não com censura.
         Esse tipo de reação, no entanto, se explica quando se considera historicamente a condução habitual das campanhas eleitorais. Afora o abuso do poder econômico e do desvio de verbas públicas para campanhas, fatos corriqueiros no Brasil que só agora começam a escandalizar, é preciso destacar o novo contexto dos meios de comunicação nesse processo. Conseguir tempo de televisão sempre foi considerado o objetivo fundamental dos acordos partidários. Há, por trás dessa visão, uma consideração negativa da capacidade crítica do cidadão em relação às mensagens a ele dirigidas. Quanto mais tempo, mais votos: era essa a equação.
         O que as redes têm demonstrado vai em outra direção. As campanhas deixaram de ser espaço de apresentação de projetos de governo (da esquerda, do centro, da direita, dos ecologistas etc.) para ser um cenário moldado pelo jogo das conveniências. Não se diz ao eleitor o que é próprio do momento privilegiado de educação política, mas aquilo que pode dar melhor resultado em termos de voto. O que parece ser um erro primário é a consideração do eleitor como ser acrítico em todo processo, valorizando comportamentos pré-políticos que são imponderáveis. O que as campanhas parecem mostrar hoje é um jogo de reafirmações infantis de posições: o governo diz que está tudo ótimo e a oposição que estamos no limiar do fim do mundo.
         Para o governo, trata-se de reafirmar propósitos populares e fugir do debate em torno dos grandes desafios, sobretudo em termos de qualidade de serviços prestados e do planejamento para o futuro (sobretudo na educação, de todos o campo mais preterido na sociedade brasileira). Para a oposição, parece ter sobrado apenas a tarefa de apontar o dedo para a corrupção e a ineficiência, sem mostrar quais são seus propósitos políticos e, inclusive, gerenciais de que tanto se orgulham. Há evasão de compromisso nos dois lados e, também nas duas pontas, uma desconsideração com o potencial do cidadão como ser político autônomo.
         As campanhas estão sendo encaminhadas de forma equivocada e desmobilizadora. Ninguém quer saber de triunfalismo esquizofrênico, nem de histeria automática e reativa. O risco não é só o da ineficiência, mas da desmoralização do campo político, o que é muito grave. O que os movimentos nas ruas mostraram em 2013 não foi a recusa da política, mas a necessidade de novos modelos de participação e conversa. Não é o que se percebe e, com isso, o processo atual de campanha tem perdido um rico potencial de debater o país e as diferentes alternativas para seu futuro.

VIRAR A MESA O que poucos estão percebendo, no entanto, é que o jogo já mudou. Em outras palavras, todo o esforço para conduzir as campanhas com paradigmas que são de outro tempo vai, com certeza, dar com os burros n’água. Aliás, já está dando. A dança das pesquisas de opinião tem mostrado isso: cada vez que a candidata do governo, Dilma Rousseff, cai nas enquetes, não sobe ninguém no outro campo. As intenções de voto não estão sendo transferidas, mas capitalizadas como crítica aos dois pólos da disputa, que mostrará sua cara na hora certa. Não se sabe para onde sopra o vento, porque  o eleitor, hoje, não é mais um boneco de porta de borracharia. É aí que está a novidade. E também a maior esperança na próxima eleição.
         O novo eleitor tem tudo para virar a mesa. O primeiro passo é trazer para o si o lugar que lhe é de direito numa eleição. Essa capacidade de protagonizar foi mostrada com eficiência nos movimentos de junho e tem deixado um rastro de mobilização que está operante, como uma chama-piloto, que pode ser acionada com rapidez pelas redes sociais a qualquer sinal de indignação. O desafio do novo militante é avançar para um momento de maior organização, sem que isso signifique alinhamento com estruturas tradicionais, sejam de esquerda ou de direita. Há uma passagem a ser feita, da movimentação cultural (no sentido amplo) para expressão política (inclusive da determinação dos rumos do Estado), embora sem pretensão de participação na máquina das decisões públicas.
         Para o sociólogo espanhol Manuel Castells, em conferência em Porto Alegre que integra o livro Pensar o contemporâneo (Editora Arquipélago), há uma passagem possível entre a indignação (sentimento que alimenta o primeiro momento das novas formas de manifestação) e a esperança, com seu potencial de organização altamente complexo e descentralizado, como exige a sociedade em rede. Se a chispa da indignação  traz o fogo para as ruas, o esforço seguinte é garantir um processo de decisões democráticas que leve em consideração esse sentimento de compartilhamento e solidariedade. Não se trata mais do jogo tradicional da formação de lideranças que ascendem ao mercado político tradicional, mas da emergência de uma nova política.
         Há quem estabeleça uma distinção valorativa entre mobilização social e movimentos sociais. Algo como uma escala de crescimento, em que mobilizações de caráter passageiro levariam a organizações do tipo dos movimentos sociais, mais estruturados e capazes de pressão continuada ao núcleo do poder. No entanto, a coisa não parece ser bem assim. As mobilizações vêm mostrando que, independentemente de fortalecer movimentos já organizados, têm uma dinâmica própria e uma temporalidade mais acelerada, exigente. Têm pressa. No entanto, se alinham no que se poderia chamar, mais amplamente, de espaço de contrapoder, que tem obrigado a sociedade a reagir às suas demandas. Além disso, mobilizações e movimentos sociais, com estratégias singulares, parecem estabelecer parcerias em projetos de fundo, como distribuição de renda e poder.
         O sociólogo Rudá Ricci, em seu recente Nas ruas – A outra política que emergiu em 2013 (Editora Letramento), diz que é preciso estar atento para a novidade surgida com os movimentos do ano passado. As antigas chaves não valem mais. “Identificar as manifestações de junho com uma trama nascida ou estimulada a partir do campo institucional é desconsiderar a profunda novidade que a juventude trouxe aos olhos das outras gerações. Um poder simbólico  e um discurso difuso e inconcludente, fundado numa comunidade dinâmica e provisória. Um mundo que ainda não dialoga efetivamente com o campo institucionalizado da política e da representação social. E nem mesmo parece apresentar qualquer intenção nessa direção.”
         Tudo isso cria, no atual momento político, uma nova perspectiva de contrapoder ao habitual jogo eleitoral de cartas marcadas e mensagens cacetes. O eleitor agora é ativo, não apenas depósito de slogans. O que as mobilizações e movimentos sociais estão trazendo de novo é a primazia do eleitor sobre o candidato. O antigo modelo (fundado no dinheiro, nos conchavos, nas articulações, nas pesquisas, nos marqueteiros e nos meios de comunicação de massa) deve ser substituído por um novo embate em que os dois lados devem falar, ouvir e debater. Não se trata apenas dos debates tradicionais e enjoados das redes de TV, um balé desgracioso de argumentos ensaiados e acusações, mas de novas formas de criação de espaços reais e virtuais de fala.
         As manifestações mostraram que as redes, com seu libertarismo e anarquia (no sentido de ausência de princípio no qual se sustenta seu poder) têm tudo para dinamizar o cenário da eleição deste ano. Não como espaço de propaganda, mas, repetindo, de contrapoder. Os candidatos, pelo que  mostraram até agora, não têm estado à altura do desafio. Pior para eles. Os jovens não vão esperar que eles entendam a lição. Há muito a ser feito e, como a história recente tem mostrado, a melhor forma de aprender a fazer política é fazendo. E nas ruas.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...


         

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A CIDADANIA, O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE E A LUZ DO VIGOR ESPIRITUAL

“Sustentabilidade sem apoio no Brasil
        
         Embora no ambiente corporativo as práticas sustentáveis já estejam se disseminando rapidamente aqui no Brasil, a exemplo do que acontece em diversos outros países, especialmente na Europa, as questões ligadas à sustentabilidade parecem não ter ainda entusiasmado o nosso governo federal. Essa constatação ficou bastante evidente para mim depois de participar do 6º Fórum Internacional pelo Desenvolvimento Sustentável 2013. Nos dois dias do evento, foram discutidos os fatores sociais, econômicos, ambientais e culturais que balizam a construção de nação sustentável – tema do encontro.
         Percebeu-se com nitidez, por meio dos muitos cases apresentados, que praticamente todas as iniciativas bem-sucedidas de investimentos em sustentabilidade no nosso país tiveram origem no setor privado, entre os quais o maior projeto do mundo para reciclagem de água industrial, que está sendo executado por duas companhias brasileiras em associação com a Sabesp, empresa paulista de saneamento com capital misto.
         Há uma razão óbvia para isso: as práticas sustentáveis, ao reduzirem o consumo de matérias-primas e a produção de resíduos, ao aprimorarem processos e incrementarem a qualidade também jogam para baixo os custos. Chama a atenção o fato de a grande maioria dessas empresas serem de grande porte, não necessariamente no sentido de dimensões físicas, de número de empregados ou de patrimônio, mas, principalmente, no sentido da capacidade de agregar valor aos seus produtos. Porte e rentabilidade são, claramente, fatores que lhes permitem investir bilhões na implantação de projetos de sustentabilidade em seus negócios – e, não poucas vezes, até nas suas redes de fornecedores, que, quase sempre constituída por empreendimentos de médio porte, nem sempre dispõem de recursos financeiros para bancar seus próprios investimentos, essenciais para assegurar que hiatos na cadeia produtiva não comprometam a integridade do conjunto. Em diversos países, essas empresas dispõem de incentivos governamentais de natureza fiscal, conhecidos como “impostos verdes”.
         No ano passado, uma rede internacional de consultoria empresarial, a KPMG, elaborou um ranking da eficácia do imposto verde entre 21 países que o adotam. Nele, o Brasil não está nada bem: é o 18º colocado, o que não é motivo de espanto: muito pouco se faz aqui, na esfera governamental, para estimular projetos dessa natureza. O mais próximo disso é o Inova Empresa, programa federal de financiamento à inovação, com orçamento de R$33 bilhões, no qual sustentabilidade é um termo que aparece timidamente entre as iniciativas que nele podem se enquadrar. Por esses dias, quase um semestre depois do lançamento do projeto, havia demanda de 1.904 empresas pelos recursos – o que é, sem dúvida, um bom sinal, já que a sustentabilidade é irmã gêmea da inovação. Mas apenas demanda. Nenhum projeto, até ontem, havia sequer sido avaliado, e o mais provável é que o Inova Empresa faça seu primeiro aniversário sem que um centavo tenha sido liberado.
         Também no papel, há o Brasil Sustentável, programa da Finep lançado durante a Rio + 20, ou seja, há mais de um ano. Numa consulta feita à página do projeto no site daquele órgão, cuja última atualização foi feita há oito meses, constava a seguinte informação: “O Brasil Sustentável disponibilizará recursos de R$ 2 bilhões”. Um tempo verbal, convenhamos, desestimulante para quem espera obter recursos para investir em práticas sustentáveis.
         O fato é que neste nosso Brasil cheio de programas disso, projetos daquilo, dinheiro sendo distribuído a rodo com finalidades inequivocamente eleitorais em meio a conturbações econômicas e políticas, não se tem notícia de um único centavo especificamente para a promoção da sustentabilidade. Enquanto nossas autoridades não assumirem atitudes proativas, engajamento legítimo e destinarem recursos específicos para investimentos – e aí destaco as médias empresas, coluna vertebral das cadeias produtivas –, vamos continuar a amargar décimos oitavos lugares, cada vez mais distantes da construção de uma nação sustentável.”

(ROBERTO LUCIANO FAGUNDES. Engenheiro, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas e do Instituto Sustentar, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Buscar vigor espiritual
        
         Os diagnósticos da crise contemporânea apontam processos corrosivos de desumanização, pesando existencialmente sobre os ombros de todos. É incontestável a perda do sentido da própria vida, com consequentes atentados contra a dignidade do outro. Violências de todo tipo permeiam as relações sociais e humanas, como o tráfico de pessoas – tema da Campanha da Fraternidade (CF-2014) –, a banalização da vida e a perda da noção de moralidade, que resultam no desrespeito aos valores essenciais do ser humano.
         Essa desumanização que alimenta dia a dia o aumento da violência e intensifica a inércia de ações governamentais e cidadãs exige reação urgente e massiva na reconfiguração dos cenários socioculturais e políticos.
         Tem-se a impressão de que a sociedade contemporânea é um caminhão desgovernado ladeira a baixo, sem freios. De tudo acontece. Tudo parece possível quando deixa de existir clareza sobre os valores do bem e do mal na vida social e familiar. Diante dessa realidade, é compromisso inegociável do cristão o combate diuturno para fazer triunfar o bem e a justiça.
         Ardiloso, o mal não se dobra facilmente a qualquer ameaça. Vencê-lo requer estratégias inteligentes, de racionalidade e de vontade política próprias de quem tem estatura cidadã. Mas só a espiritualidade é capaz de sustentar a competência daquele que assume essa luta. Só ela tem poderes para alargar os corações e capacitar as pessoas para uma compreensão que ultrapassa a simples lógica das relações formais e conduzir à construção de uma sociedade justa e solidária, por meio do aprendizado do amor a partir de sua gênese: a fonte inesgotável, o amor, Deus revelado de maneira plena na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, Salvador e Redentor. Significativo é ter presente o ápice do diálogo de Jesus com Nicodemos, narrado pelo evangelista João, quando o Mestre diz: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu filho único para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.
         Não se pode ser coração da paz e, assim, vencer o mal, sem beber da fonte do amor, que o limite humano não garante, em si. E esse amor de Deus, na história da humanidade, se personifica em Jesus Cristo. Se há essa compreensão permanece cotidianamente o desafio de aproximação dessa fonte da oferta dadivosa que ele faz de si, com ensinamentos e gestos que, imitados e testemunhados, podem fazer de cada coração da paz instrumento de consecução de uma dinâmica social e política que promove a dignidade humana.
         Esses espantosos diagnósticos de desumanização da sociedade contemporânea precisam ser afrontados, com o propósito inadiável de nova configuração, em segurança pública, educação, trabalho, saúde, moradia, política menos partidarista e mais cidadã. Pela garantia de oportunidades para todos, por uma cultura que supere a exclusão social. Sendo assim, a reconquista da humanização que se anseia neste momento, com a reorganização das diversidades de todo tipo, autonomias e liberdades, demandas e prioridades, só será possível por meio de uma espiritualidade enraizada, fazendo de cada pessoa coração da paz.
         A vivência da semana santa, a semana maior, fixando o olhar na revelação plena do amor de Deus, aproximando-nos da fonte inesgotável, é a grande oportunidade para se recuperar a espiritualidade tão necessária. A superficialidade de fazer da semana santa um feriadão pode ser um equívoco. O repouso justo, o silêncio fecundante, a oração alargadora do coração, as abstinências, a sensibilização pela escuta e a celebração do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus são possibilidades  fecundas para um novo tempo de vida pessoal e comunitária em busca do indispensável vigor espiritual.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública;forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A CIDADANIA, A NECESSIDADE DE UMA PROPOSTA NACIONAL E OS TALENTOS DESPERDIÇADOS

“Falta uma clara proposta de país
        
         Em ano eleitoral, pipocam planos de governo por partidos ou coligações. Vários profissionais e políticos ligam as antenas e o conjunto de dados reunidos forma um projeto de futuro para os quatro anos adiante. Além do plano de governo, resta saber se os políticos estão sensibilizados para a necessidade de algo mais importante e perene: um plano de nação.
         Nos idos dos anos 1970, os Tigres Asiáticos – países pobres situados no Sudeste da Ásia – estabeleceram objetivos claros visando atingir prosperidade sustentável. Ao fixar alvos de futuro, a população firmou um pacto inabalável e independente de vertentes políticas. Nesse período, pobreza e falta de saneamento básico foram erradicados, elegeram-se o ensino e a meritocracia como prioridades; fez-se o exercício obsessivo da responsabilidade fiscal e construiu-se uma infra-estrutura impecável. O resultado do árduo sacrifício gerou orgulho em seus cidadãos e atraiu sólidos investimentos mundiais, criando um ciclo virtuoso. Não houve plano de governo. Houve plano de nação.
         A Europa do pós-guerra encontrava-se atrasada, em especial a Alemanha, coberta pela vergonha do genocídio e da destruição que seus filhos causaram. Dando por inaceitável a determinação de seu fracasso, os europeus levantaram-se e miraram no futuro, visando criar prosperidade e voltar a florescer. A despeito de divisões políticas, os europeus  conjugaram ambição a sacrifício. Da união de forças, décadas depois e com profundos ajustes institucionais, a miséria do pós-guerra ficou para trás.
         Os Estados Unidos vivenciaram várias crises humanitárias e econômicas. O New Deal permitiu que o povo se unisse e por meio de sacrifício coletivo construiu-se um país que é sinônimo de oportunidade, até para imigrantes, fundado em sentimentos de igualdade, prosperidade e oportunidade.
         A China é um exemplo a ser conhecido. Seu povo, ao cabo de 20 anos de árduo trabalho e organização, conquistou lugar de importância no mundo. A China é um país temido econômica e militarmente, sua população gera prosperidade e agora passa à desafiadora tarefa de redistribuição da riqueza acumulada.
         Ao exame de exemplos surgem algumas questões. O povo brasileiro sabe para onde vai? Quando candidatos falam de planos de governo, até que ponto reeditam ideias, tapam buracos? Há visionários propondo a mobilização de capacidades internas sob uma perspectiva de preparar-nos ao mundo de 20, 30 anos adiante?
         Ainda parece faltar uma clara proposta de país. O que podemos ou queremos ser? O Brasil, pela sua magnitude, tem o dever de liderar a região quando descobrir o que quer ser.
         O povo brasileiro aparenta ter atingido o ápice do estágio de egoísmo consumista e imediatista, jamais antes visto. O acesso ao crédito barato permitiu ascensão social e sensação de prosperidade, mas ela se comprova insustentável ao longo prazo. A desesperança ainda reina.
         Um país precisa de dirigentes que traduzam suas ações em propostas de nação, indo além do curto prazo e dos planos de mero governo. Não é porque o país encontra-se desestruturado e com demandas fundamentais não atendidas que não se estabelecerão objetivos de longo prazo e meios para atingi-los. Fazê-lo é a obrigação de todo patriota e um político deve colocar o cidadão acima de suas ambições pessoais.”
(DAN M. KRAFT. Advogado no Brasil e no Canadá, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 6 de abril de 2014, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2, de autoria de PAULETTE MELO, professora em cursos de MBA da FGV/IBS, e que merece igualmente integral transcrição:

“TALENTOS DESPERDIÇADOS
         
         Diversas pesquisas têm revelado uma escassez de profissionais talentosos em todo o mundo e em todos os setores. Um estudo sobre o tema, realizado pela Manpowergroup, exemplifica essa realidade ao constatar que o Brasil é o segundo colocado no ranking dos países que enfrentam maiores dificuldades para preencher as vagas no mercado de trabalho. Os especialistas sugerem que a solução está no aumento da oferta de trabalhadores qualificados. Contudo, há um fator que ainda não aparece nas pesquisas e tem um impacto direto na “produção de talentos”: muitos desses profissionais desaparecem por falta de incentivo dentro das próprias empresas.
         É muito comum os especialistas em recursos humanos e gestão de pessoas ouvirem relatos de gestores interessados em atrair e desenvolver os melhores talentos. As empresas até querem e conseguem atraí-los, haja vista a concorrência, por exemplo, para as posições de trainees em organizações de renome. Porém, o que tem ocorrido é que não há um interesse autêntico dos gestores pelos profissionais talentosos e também não existe uma estrutura preparada para desenvolvê-los nas organizações.
         O que se observa, na maioria esmagadora das vezes, é que esses profissionais notáveis se deparam com gerentes autoritários que os desmotivam no dia a dia, em vez de trabalhar o potencial deles. Os profissionais se sentem intimidados, ameaçados, e a consequência disso é que a proatividade e a motivação dão lugar à passividade. Os talentos aprendem com os gerentes a ficar na zona de conforto, o que é extremamente improdutivo.
         Durante os recrutamentos, os profissionais nos detalham seus sonhos de mudar o mundo, quando assumem o primeiro trabalho, sobre o desejo de oferecer às empresas o seu melhor. E tenho investido para que os talentos que contrato e entrego às empresas não se deixem vencer pela inércia e acomodação a que serão atraídos e que não se deixem conduzir pelo reducionismo e a mediocridade.
         O grande problema nesse modelo é que na Era do Talento nada se deprecia mais que o próprio talento. Os talentos que não são desenvolvidos estão fadados à extinção. Nunca os talentos foram tão desperdiçados como atualmente. A competitividade de um país nada mais é que o somatório da competitividade de sua organizações. Por isso precisamos criar uma geração de profissionais que não se sintam ameaçados pela genialidade dos outros, pois conhecem, reconhecem e trabalham a partir da própria genialidade, cuja complementaridade permitirá saltos exponenciais na performance individual e na produtividade nacional. No século 21, gerar valor econômico para a organização só se sustenta se e somente se gerar valor social aos indivíduos.
         Um gestor que mata os talentos de sua equipe aos poucos não pode ser considerado líder. Entretanto, é comum ver as chefias embotando a criatividade, mitigando a seiva da inovação e fragilizando as pessoas, aproveitando-se das riquezas delas pelo prazer de se sentirem superiores. Devemos reavaliar essa realidade e perceber que é necessário repensar o talento nas organizações. Não devemos prosseguir multiplicando a mesmice e a mediocridade. Por enquanto, o que oferecemos atualmente é um inexpressivo gerenciamento de talentos.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento – até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (haja vista o “desperdício de talentos...”);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$  trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, teconologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamentoestratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A CIDADANIA, A CONSCIÊNCIA DAS REALIDADES MAIS PROFUNDAS E O DESAFIO DA EDUCAÇÃO

“A consciência nos faz perceber realidades mais profundas
        
         Em nossa caminhada espiritual, vamos transcendendo o conceito que em geral se tem acerca de consciência.
         Para o senso comum vigente, consciência é a mente ou, quando muito, o que vem do plano intuitivo. As pessoas centralizadas entre o plano mental e o intuitivo, planos de onde vêm ideias, pensamentos e impulsos, acreditam que sua forma de percepção é a consciência propriamente dita. Mas nesses planos há uma só parte da consciência, a parte que se expressa ali. O que existe na mente e no plano intuitivo não é a consciência pura nem a consciência completa do ser humano.
         Para transcenderem seu conceito atual de consciência, essas pessoas precisariam parar um pouco e observar seus pensamentos. Ao fazerem isso, não deveriam confundi-los com a consciência. A partir daí, poderão encontrar o que está além.
         Há em nós algo maior, superior ao nível dos pensamentos e das intuições, algo em que a mente normal não penetra. Se ficarmos calmamente assistindo ao que se passa na mente, cientes de que tudo aquilo é apenas uma parte da consciência, poderemos ter maior clareza. Passaremos a perceber realidades mais profundas sem planejar, e começaremos a nos identificar com esse nível superior que nos toca. Então, na presença de algum objeto, pessoa ou situação, em vez de automaticamente nos envolvermos com nossas ideias e preconceitos a seu respeito, veremos essas realidades.
         Pode-se, por exemplo, estar diante de um acontecimento e saber para o que ele vai servir, sem haver pensado; ou pode-se estar diante de uma pessoa e perceber a realidade interna do seu ser. Quando isso começa a suceder, nossa vida muda por completo. Passamos a compreender melhor os fatos, a conhecer o outro mais verdadeiramente, sem chegar a pensar, sem nos basear no que ele diz, no que vemos nele, no que achamos dele.
         Nessa descoberta, notamos que a consciência existe também nas coisas materiais que nos cercam, nos ambientes. Vemos que tudo é consciência, que a consciência é uma. Quando atingimos esse ponto, passamos a entrar nos lugares com outra atitude, porque distinguimos o que se poderia chamar de “consciência ambiental”.
         Tamanha ampliação traz significativo aprofundamento à nossa vida. Nossos sonhos mudam de qualidade e, ao despertar, notamos que algo se transformou em nós. A consciência vai trabalhando o nosso ser por dentro. E em dado momento ela emerge, seja qual for o estado do nosso ser exterior – queira ele ou não.
         A consciência começa a trabalhar o ser pelas suas partes menos resistentes. Pouco a pouco, outras partes vão integrando-se nesse processo: a matéria do corpo físico, as emoções, os pensamentos, o ambiente, o mundo. A consciência faz isso para despertar a luz que há dentro de tudo, faz isso para sutilizar, elevar, expandir. Ela é viva e transformadora. Sua expansão diviniza a vida. E a vida, aos ser divinizada, transforma-se ainda mais e se torna, então, consciência pura.
         Feita à semelhança do Criador, a consciência tem em seu centro o cosmos inteiro. Não é o corpo físico nem a energia por ele expressa; é uma realidade essencial, indestrutível.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 6 de abril de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de ALESSANDRA APARECIDA SOUZA LIMA MARQUES, formada em letras com habilitação em português e francês pela UFMG, pós-graduada em estudos lingüísticos pela UNI-BH, bacharel em direito, e que merece igualmente integral transcrição:

“Mudar a educação
        
         A Educação no Brasil é um tema exaustivamente discutido e inesgotável no panorama da ampliação do potencial humano. De um lado, há exemplos edificantes, divulgados pela imprensa, em que escolas públicas sob iniciativa de seus gestores vem construindo histórias invejáveis. Do outro, um resultado conflitante com tal cenário, divulgado em 1º de abril, que coloca o Brasil no 38º lugar entre 44 países participantes do Pisa.
         O Pisa é um programa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa etária de 15 anos. “O Programme for International Student Assessment) (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) é desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Tem como objetivo  produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação nos países participantes a fim de subsidiar melhorias no ensino básico.”
         O mais alarmante não é um estudo comparativo com outros países, tendo em vista as diferentes realidades, mas perceber que o país ficou abaixo da média estabelecida. Logo, as competências dos estudantes em leitura, matemática e ciências não foram suficientes para atingir o mínimo necessário.
         Há que se pensar na educação de uma forma mais abrangente, que envolva não apenas políticas educativas, mas estratégias educativas, cujo foco nesse contexto não seja somente o “enunciatário”, mas também o enunciador.
         Importante depreender que esses alunos, ao serem avaliados, estão tão somente reproduzindo o que assimilaram. Sendo assim, não há que se falar em responsabilidade unilateral; há partes envolvidas no mesmo processo. Diante de todas as adversidades encontradas, sejam de caráter  estrutural ou econômico, a única certeza é de que a ineficácia do ensino está aparente. E a saída não se restringe aos conteúdos ensinados, mas a como estão sendo trabalhadas essas competências em sala de aula. Importante refletir se a maneira como as orientações estão sendo dadas não estão conflitantes com o perfil dos alunos atuais.
         Hoje, a sociedade vive uma era de transição, um desmoronamento do passado. Enquanto muitos educadores advêm de uma cultura eminentemente verbal, os alunos contemporâneos, nativos digitais, vivem a cultura da imagem, devido aos estímulos visuais, demasiadamente explorados. Logo, o professor não é mais fonte de informação, ele ajuda a conectar essas informações e, assim, deve ser o primeiro a perceber o deslocamento de seu papel.
         Se nos primórdios a cultura acadêmica era contemplativa, na atualidade está na contramão dessa propriedade. O educador precisa usar as mídias sociais a seu favor, pois isso possibilitará uma aproximação maior com seu aluno. Para tanto, é imprescindível que esses profissionais desenvolvam competências nem sempre atreladas ao uso do computador em si, mas também acompanhando as tendências e possibilidades que surgem no dia a dia.
         O aluno, usuário habitual das novas tecnologias, nem sempre tem a maturidade para relacionar os conteúdos e filtrar as informações relevantes, pois na maioria das vezes faz uso superficial dessas informações e não consegue transformar o que se apresenta de forma fragmentada em efetivo aprendizado. O professor, nesse decurso, assume um papel primordial de catalisador do conhecimento.
         A educação tradicional  tornou-se obsoleta diante das tecnologias digitais, e os impactos dessas mudanças refletem o desinteresse de muitos alunos no universo acadêmico. Não há que se falar em finalidades divergentes, mas sim de metodologias conflitantes: a linguagem usada entre professor e aluno não está sendo a mesma. Portanto, é importante a experimentação do novo, seja na organização das aulas, utilizando aplicativos facilitadores da transmissão do conhecimento, seja estimulando e desafiando o aluno, fruto de uma geração extremamente tecnológica.
         Abandonar a zona de conforto do velho modelo acadêmico torna-se um fator preponderante nessa revolução, e esta só é possível por meio de iniciativas ousadas e destemidas advindas do corpo docente.
         Ainda que os conteúdos sejam os corriqueiros, as habilidades cognitivas devem ser trabalhadas com o propósito de ampliar o lado intelectivo do aluno, tornando mais efetiva sua formação como cidadão e, certamente, os resultados positivos serão consequência de um projeto reestruturado aos moldes da contemporaneidade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado),  como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdências social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...     

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A CIDADANIA, A TERRA VIVA E A CULTURA MARCADA PELA FÉ

“A Terra não é um planeta em que há vida, ela é um organismo vivo
        
         A partir dos anos 70, ficou claro para grande parte da humanidade científica que a Terra não é apenas um planeta sobre o qual existe vida. Ela é viva, um superorganismo vivente denominado pelos andinos de “Pacha Mama” e pelos modernos de “Gaia”, o nome grego para a Terra viva.
         A espécie humana representa a capacidade de Gaia de ter um pensamento reflexo e uma consciência sintetizadora e amorosa. Nós, humanos, possibilitamos à Terra apreciar a sua luxuriante beleza, contemplar sua intrincada complexidade e descobrir espiritualmente o mistério que a penetra.
         O que os seres humanos são em relação à Terra é a Terra em relação ao cosmos por nós conhecido. O cosmos não é um objeto sobre o qual descobrimos a vida. O cosmos é um sujeito vivente que se encontra num processo permanente de gênese.
         A mudança que essa leitura deve produzir nas mentalidades e nas instituições só é comparável com aquela que se realizou no século XVI aos se comprovar que a Terra era redonda e girava ao redor do Sol. Especialmente, a verificação de que as coisas ainda não estão prontas, estão continuamente nascendo, abertas a novas formas de autorrealização. Consequentemente, a verdade se dá numa referência aberta, e não num código fechado e estabelecido.
         Importa, antes de mais nada, realizar a reintegração do tempo. Nós não temos a idade que se conta a partir do dia do nosso nascimento. Nós temos a idade do cosmos. Começamos a nascer há 13,7 bilhões de anos, quando principiaram a se organizar todas aquelas energias e materiais que entram na constituição de nosso corpo e de nossa psiquê. Quando isso madurou, estão nascemos de verdade, sempre abertos a outros aperfeiçoamentos futuros.
         Se sintetizarmos o relógio cósmico de 13,7 bilhões de anos no espaço de um ano solar, querendo apenas realçar algumas datas que nos interessam, teríamos o seguinte quadro:
         Em 1º de janeiro, ocorreu o big-bang. Em 1º de maio, o surgimento da Via Láctea. Em 9 de setembro, a origem do sistema solar. Em 14 de setembro, a formação da Terra. Em 25 de setembro, a origem da vida. Em 30 de dezembro, o aparecimento dos primeiros hominídeos. Em 31 de dezembro, irromperam os primeiros homens e mulheres. Os últimos dez segundos de 31 de dezembro inauguraram a história do Homo sapiens, do qual descendemos diretamente. O nascimento de Cristo ter-se-ia dado precisamente às 23h59min56s. O mundo moderno teria surgido no 58º segundo do último minuto do ano. E nós? Na última fração de segundo antes de completar meia-noite.
         Em outras palavras, somente há 24 horas o universo e a Terra têm consciência reflexa de si mesmos.
         Uma pedagogia adequada à nova cosmologia nos deveria introduzir nessas dimensões que nos evocam o sagrado do universo e o milagre de nossa própria existência. Isso, em todo o processo educativo, da escola primária à universidade.
         Em seguida, faz-se mister reintegrar o espaço dentro do qual nos encontramos. Vendo a Terra de fora da Terra, descobrimos um elo de uma imensa cadeia de seres celestes. Pertencemos ao sistema solar, que é um entre bilhões e bilhões de outras estrelas num planeta pequeno, mas extremamente aquinhoado de fatores favoráveis à evolução de formas cada vez complexas e conscientizadas de vida: a Terra.
         Reintegrados no espaço e no tempo, nos sentimos como Pascal: um nada diante do Todo e um Todo diante do nada. E nossa grandeza reside em saber e celebrar tudo isso.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 4 de abril de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 4 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Cultura marcada pela fé
        
         O papa Francisco, na sua exortação apostólica sobre o anúncio do evangelho no mundo atual, sublinha o quanto é indispensável e importante a cultura marcada pela fé e a sua dimensão determinante nos rumos e tradições de grupos humanos pelo mundo afora.
         É incontestável o legado recebido por culturas seculares, em valores humanísticos e espirituais, em razão do anúncio, aprendizagem a vivência da fé cristã. Um legado que tem como referência uma fonte inesgotável que é o evangelho de Jesus Cristo, e ele próprio, Redentor e Salvador.
         A contemporaneidade continua necessitada da oferta preciosa que vem dessa fonte. Independentemente de todo tipo de crítica, até mesmo merecida, às configurações morais com excessivos rigores ou anuências tácitas frente às posturas discriminatórias e prejudiciais, a dinâmica da fé cristã continua indispensável. É fundamental, especialmente quando se trata da busca do equilíbrio humanitário na importante tarefa de afastar o mundo do caos moral e espiritual para o qual caminha, em razão de hegemonias dadas ao dinheiro e às relativizações éticas e morais.
         Sem aprofundar aqui sobre a importância da fé na cultura, do ponto de vista histórico-social, ou mesmo na explicitação de sua rica dinâmica interna, faz-se importante redobrar a atenção quanto ao que lhe é próprio, conferindo às culturas consistência adequada e equilíbrio das relações sociais e políticas no interno das sociedades.
         A dinâmica da Igreja no anúncio do evangelho para a vida do mundo precisa avaliar permanentemente vários aspectos importantes para que sua mensagem não seja equivocada. Nesse sentido, por exemplo, o papa Francisco adverte quanto ao risco de um perigoso mundanismo espiritual que pode tomar conta das igrejas e permear a definição de seus projetos e eventos. Entendendo-se por mundanismo espiritual – como diz o papa Francisco – a dinâmica que esconde atrás das aparências de religiosidade, até mesmo de amor à Igreja, a busca da glória humana e do bem-estar pessoal em vez da glória do Senhor.
         Nas mais ricas e autênticas tradições espirituais do cristianismo, a glória do Senhor não é senão a vida plena do homem, fazendo do outro destinatário de uma amor comprometido. Daí nasce o rico corolário que implica a autenticidade da fé, mais do que a prioridade do bem-estar pessoal, e o compromisso com uma ordem social justa, resultante da vivência dessa mesma fé cristã. Esse mundanismo espiritual, portanto, pode produzir misturas nefastas e enganosas entre o que, de fato, é fé cristã marcando a cultura, e o que, está na contramão da mais genuína espiritualidade cristã.
         A autenticidade da dinâmica da fé cristã não pode ser comparada a nem mesmo visitar as linguagens tão conhecidas das produções típicas de autoajuda, com passagens por outros tipos de crenças como os traços remanescentes da filosofia da “nova era” – presentes do urbano contemporâneo e envolvidos em um processo de elaboração de uma nova cultura.
         Assim, a proposta da dinâmica cristã, nesse mesmo contexto, não permite e não se ajusta ao que sincreticamente é criado para atender aos anseios humanos e com adaptações cômodas em vista do mero bem-estar pessoal. Um exemplo disso é a ideia, imposta pela permissividade, que parte do princípio de que toda norma compromete a autonomia e a liberdade.
         Não menos atenção merece o secularismo que vai reduzindo a fé e até a missão da Igreja ao âmbito privado e íntimo, fazendo com que sejam vistos com naturalidade os horrorosos processos de desumanização, resultado das relações sociais e políticas que se deterioram, por vezes provocando situações irreversíveis.
         Sendo assim, o anúncio do evangelho não pode ser desvirtuado a ponto de causar sombras na transcendência enquanto compreensão e dinâmica vivencial que abre o ser humano à solidariedade, ao sentido de sua oferta. Que qualifica sua cidadania civil com os princípios de quem vive o Reino de Deus em seu cotidiano, movido pela certeza de estar a caminho de uma vida que está para além do tempo e da história.
         É hora de cuidar para que certas influências da cultura globalizada, aquela da primazia do bem-estar pessoal, da idolatria ao dinheiro e da criação de guetos para usufruto descomprometido de forças institucionais, não desfigurem o que é próprio da fé cristã em sua força libertária e transformadora.
         O papa Francisco aponta que a fé cristã, vivida e respeitada, proporciona a descoberta e a transmissão da mística de vivermos juntos, de nos misturarmos, nos encontramos, darmos o braço uns aos outros, nos apoiarmos e participarmos desse maré que, embora caótica, pode transformar-se em verdadeira fraternidade, caravana solidária, peregrinação sagrada. O ganho será a autenticidade de uma cultura marcada pela fé.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais –  (a propósito, a diferença de renda entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres, no Brasil, é de 50 vezes maior; enquanto na Nova Zelândia, é de 8 vezes maior) – e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...