“Escola
pública: tristeza e dor!
Esta semana,
conversando com um dos professores mais dedicados, talentosos e idealistas que
conheci nestes trinta anos, ouvi ao final de uma avaliação que fazíamos sobre a
crise na educação: Aquino, estou morrendo a cada dia que entro na escola. E
essa doença é mais terrível que qualquer outra, morro diariamente de tristeza e
dor na alma, da angústia de quem ama a educação!”.
Fiquei
triste pois tenho um especial carinho pela educação. Em especial, pela classe
dos professores, heróis anônimos de guerras diárias e anônimas. Fui, nesta
últimas três décadas, testemunha e parceiro em diversas tentativas de
valorização, estruturação e renovação da mais nobre das instituições criada
pela civilização que é a escola. Base de tudo, início de tudo, ela tem a maior
das responsabilidades dentro de uma sociedade que se pretende minimamente
saudável e justa. Que o diga países como a Coréia do Sul e outros asiáticos que
radicalizaram e colocaram a formação escolar como o bem mais crucial e
duradouro para se pensar uma nação. Dito e feito: passou de uma nação
subdesenvolvida, pobre e inviável para uma potência de ponta, um “tigre” que
hoje da aula para o mundo! Um professor coreano é quase um ídolo, tal a
nobreza, a admiração que desperta. Alguns, ao darem aulas na internet, têm mais
acesso que cantores pop, atletas famosos, artistas de cinema. Carreira
disputada, bem remunerada, mas, principalmente, respeitada por alunos, pais,
governo e sociedade.
Mas
por que começar por um caso de sucesso absoluto se o tema é a triste realidade
da Educação no Brasil? Singelamente para lembrar que até o mais caótico e
desesperador caso de abandono, carência e abuso tem sempre um contraponto
profundo, uma esperança perseverante. Por que um psiquiatra vem aqui para falar
do atual momento das comunidades escolares? Passeis 25 anos da minha vida dando
palestras, fazendo cursos, projetos, escrevendo livros parapedagógicos para
escolas privadas e publicas, assim como atendendo pais, alunos e educadores na
minha clínica. E fui constatando o adoecimento crônico desta comunidade. Está
havendo uma falência múltipla de órgãos: começa no MEC e vai impiedosamente
devastando o setor, os políticos, a péssima formação universitária, o
abominável avanço de ano automático e seus analfabetos funcionais em ensino
médio, o abandono absoluto das escolas, infectadas pela violência, desinteresse
absoluto das últimas gerações de estudantes, pais ausentes, absenteísmo de
professores, salários incompatíveis com o alto grau de estresse e
periculosidade que é a profissão de educador.
Volto
a advertir e disponibilizo para quem se interessar o site www.bemvindoavida.com.br.
Nele, o projeto Ecologia Humana nas Escolas mostra a inserção das Ciências do
Comportamento como matéria paradidática. Mostra também que toda comunidade
escolar deveria ter uma equipe de saúde ligada ao psiquismo, como psiquiatra,
psicólogo, psicopedagoga e professores que se interessam por temas como
neurociência e outras ciências comportamentais, permitindo atendimento nas
comunidades escolares, ainda que à distância.
Quem
dera se a grande mídia tivesse espaço para programas lúdicos e interessantes
que democratizassem para todos temas que andam espalhando a angústia pela
humanidade. Afinal, parte grande destas escolas doentes” está contaminada por
transtornos e distúrbios comportamentais que acometem igualmente professores,
pais, alunos e funcionários.
Há
muitos falsos diagnósticos de hiperatividade infantil, desordens escolares e
distúrbios de aprendizagem que, no fundo, são causados por sono insuficiente,
excesso de telas, falta de limites, bebidas, drogas e sexo banalizado.
Impressiona o número de professores com distúrbios mentais, desanimados,
infelizes e temerosos da agressividade dos alunos (com a Síndrome de
Burnout). Hoje, mal ou bem comparando,
vejo uma similaridade com os antigos instrutores da Febem, que enfrentavam a
cada dia o inferno da “reeducação de infratores”.
O
primeiro passo é repensar a estrutura física das escolas, achar uma alternativa
aos arqueológicos quadros negros, criar um ambiente que volte a dar, desculpe o
termo, mais “tesão” para quem ensina, aprende e frequenta a escola.
Quem
age constrói, quem reage destrói. Sei que a maioria das pessoas tem ótima
índole, mas pecam por serem silenciosas e passivas. De escândalo em escândalo,
nos roubam as verbas da merenda escolar, desviam dinheiro para equipar a saúde
pública, enterram na Suíça o orçamento das moradias e sanitarismo. E nós não
falamos nada. Que direito teremos de reclamar da pocilga que habitamos?
Só
lembrando: a palavra mestra é ESTÍMULO! Pois só ele gera resposta. Chega desse
papo de motivação. Ninguém aguenta a cada dia criar “motivos” para viver,
mudar, criar um novo tempo!”.
(EDUARDO
AQUINO. Escritor e neurocientista, em artigo publicado no jornal SUPER NOTÍCIA, edição de 13 de outubro
de 2013, caderno CIDADES, coluna
Bem-vindo à Vida – Crônicas sobre o comportamento e o relacionamento humano,
página 4).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de
outubro de 2013, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de CARLOS ALBERTO DI
FRANCO, que é diretor do Departamento de Comunicação do Instituto
Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela
Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:
“Democracia
e jornalismo
A democracia reclama um
jornalismo vigoroso e independente. A agenda pública é determinada pela
imprensa tradicional. Não há um único assunto relevante que não tenha nascido
numa pauta do jornalismo de qualidade. As redes sociais reverberam,
multiplicam, agitam. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de conteúdo
independentes. Sem elas a democracia não funciona. Por isso são tão fustigadas
pelos que costuram projetos autoritários de poder.
Num
momento de crise no modelo de negócio, evidente e desafiante, o que não podemos
é perder o norte. E o foco é claro: produzir conteúdo de alta qualidade técnica
e ética. Só isso atrairá consumidores, no papel, no tablet, no celular, em
qualquer plataforma. E só isso garantirá a permanência na democracia. Por isso,
os governos autoritários, apoiados em currais eleitorais comprados com o preço
da cruel perenização da ignorância e, consequentemente, da falta de senso
crítico, investem contra a imprensa de qualidade e contra os formadores de
opinião que não admitem barganha com a verdade.
A
crise do jornalismo está intimamente relacionada com a perda de qualidade do
conteúdo, com o perigoso abandono de sua vocação pública e com sua equivocada
transformação em produto mais próprio para consumo privado. É preciso recuperar
o entusiasmo do “velho ofício”. É urgente investir fortemente na formação e
qualificação dos profissionais. Sem jornalismo público, independente e
qualificado, o futuro da democracia é incerto e preocupante.
A
sobrevivência dos meios tradicionais demanda foco absoluto na qualidade de seu
conteúdo. A internet é um fenômeno de desintermediação. E que futuro aguarda os
meios de comunicação, assim como os partidos políticos e os sindicatos, num
mundo desintermediado? Só nos resta uma saída: produzir informação de alta
qualidade técnica e ética. Ou fazemos jornalismo de verdade, fiel à verdade dos
fatos, verdadeiramente fiscalizador dos poderes públicos e com excelência na
prestação de serviço, ou seremos descartados por um consumidor cada vez mais
fascinado pelo aparente autocontrole da informação na plataforma virtual.
Os
diários têm conseguido preservar seu maior capital: a credibilidade. A
confiança da população na qualidade ética dos seus jornais tem sido um
inestimável apoio para o desenvolvimento de um verdadeiro jornalismo de
buldogues. O combate à corrupção e o enquadramento de históricos caciques da
política nacional, alguns sofrendo o ostracismo do poder e outros no ocaso do
seu exercício, só foi possível graças à força do binômio que sustenta a
democracia: imprensa livre e opinião pública informada.
A
revalorização da reportagem, pautas próprias e o revigoramento do jornalismo
analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso atiçar o
leitor em matérias que rompam a monotonia do jornalismo de registro. Menos
aspas e mais apuração. Menos Brasília e mais país real. O leitor quer menos
show político e mais informação de qualidade. O prestígio de uma publicação não
é fruto do acaso. É uma conquista diária. A credibilidade não se edifica com
descargas de adrenalina.
Apostar
em boas pautas – não muitas, mas relevantes – é outra saída. É melhor cobrir
magnificamente alguns temas do que atirar em todas as direções. O leitor pede
reportagem. Quando jornalistas, entrincheirados e hipnotizados pelas telas dos
computadores, não saem à luta, as redações se convertem em centros de
informação pasteurizada. O lugar do repórter é na rua, garimpando a informação,
prestando serviço ao leitor e contando boas histórias. Elas existem. Estão em
cada esquina das nossas cidades. É só procurar.
Quem
tem menos de 30 anos gosta de sensações, mensagens instantâneas. Para isso a
internet é imbatível. Mas há quem queira, e necessite, entender o mundo. Para
esse público deve existir leitura reflexiva, a grande reportagem. Antes os
periódicos cumpriam muitas funções. Hoje não cumprem algumas delas. Não servem
mais para contar o imediato. E as empresas jornalísticas precisam assimilar
isso e se converter em marcas multiplataformas, com produtos adequados a cada
uma delas. Um bom texto, para um público que adquire a imprensa de qualidade,
sempre vai ter interessados.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem;
III – o desperdício, em todas as
suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inquestionavelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; turismo; pesquisa e desenvolvimento;
ciência, tecnologia e inovação; comunicações; cultura, esporte e lazer; qualidade
(planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...