quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, UMA HOMENAGEM AOS PROFESSORES E A VERDADE NA EDUCAÇÃO

“Aos professores, com carinho
        
         Queridos mestres, me perdoem a falta de jeito, o estilo saudoso de enviar-lhes esta cartinha. Coisa de aluno antigo, do tempo que os mestres eram sagrados, respeitados, admirados por todos nós. As coisas mudam, mas nunca mudará a importância e nobreza de quem transfere conhecimentos e cultura.
         Ao me ver hoje, sei que sou uma extensão de um universo em que fui apresentado por vocês. Indescritível a emoção de começar a ler e, na mesma medida após esforço e luta, ser recompensado com uma nota máxima.
         Na minha ante-sala da memória, quadros afetivos povoam a galeria de heroicos e dedicados mestres: dona Guilhermina e Violeta, professoras da pré-escola, são lembranças vivas do entusiasmo de lecionar.
         E como descrever os rígidos Dalmi ou Maria Helena? Um imenso desejo de que aprendêssemos, iluminando o caminho do saber. Dona Marina de biologia, ou o Zé Mauro, mascarado e achista!
         A beleza e ingenuidade da Amélia dando a química, uma tabela periódica charmosa e o desejo da alquimia que nos transformasse em mocinhos em busca da musa.
         Ensinar é uma arte, uma missão cada vez mais árdua e heroica. Olhando para trás, revejo os milagres que o Português trouxe à minha vida ao ensinar que o sujeito, se usar um verbo sagrado, agirá direta ou indiretamente sobre o objeto, que pode muito bem ser promovido ou destratado por um adjetivo, e olhe que uma única vírgula pode atrapalhar tudo!
         Aprendi com dona Emília que palavras têm alma, e lamento que o estudo delas tenha abolido o latim e o grego.
         Quisera eu dizer a uma musa que ela me “inspira” (“ins”: dentro de, “piros”: chama sagrada! Ou saber que o universo é “um Deus derramado” ou que entusiasmo significa, na sua etimologia, “trazer um Deus dentro de si”.
         Agradeço ao professor Dalmi esta revelação de que palavras são códigos que traduzem as três energias da mente: o que eu penso, o que eu sinto, o que eu desejo fazer. Pensar, sentir, agir e então me apresentar ao mundo.
         Lamento quando mostra-se que um adolescente atual sabe e convive com no máximo 200 palavras, são analfabetos funcionais, vivem sem poesia, sem expressão, sem inspiração.
         E falar de história, desvendando todo o caminho que meus antepassados percorreram, guerreando, inventando, construindo o mundo que habitamos.
         Pensar na biologia, que mostra que cada célula minha é uma cópia de mim mesmo e se clonado me ressuscitará daqui a mil anos.
         Ou a física, que me faz matéria e energia e a química, que mostra que somos nada mais que uma tabela periódica de elementos universais: carbono, hidrogênio, oxigênio, ferro, cálcio e por aí vai, portanto, do “pó vieste e ao pó voltará”. Não há ouro que sobreviva ao fim certo e a eternidade esperada.
         Termino esta coluna após ver um estudo que mostra que cada vez menos pessoas querem ser professores e que já faltam docentes em milhares de escolas. E lamento que nós, alunos, os pais, a comunidade em geral, estejamos tão viciados em celulares e eletrônicos.
         Lamento que pessoas reais não recebam um abraço, um cumprimento carinhoso, o respeito mínimo de quem nos forma e, generosamente, doa conhecimentos.
         Que nesta volta a mais um ano letivo, desejo do fundo do meu coração que todos os professores sejam abençoados com a saúde, a paz, a serenidade e, assim, sejam reconhecidos como patrimônio da humanidade!
         Agradeço aos mestres citados e perdão aos que não o foram pois homenageei professores de mais de 40 anos atrás sem os quais esta coluna não teria sido escrita!”

(Eduardo Aquino. Escritor e neurocientista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 12 de janeiro de 2014, caderno CIDADES, página 4, coluna Crônicas sobre o comportamento e o relacionamentos humano).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2356 – ano 47 – nº 3, de 15 de janeiro de 2014, páginas  76 e 77, de autoria de Gustavo Ioschpe, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Por que não falar a verdade, ministro?
        
         Em dezembro, foram divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram péssimos. Ficamos em 58º lugar em matemática, 59º em ciências e 55º em leitura, entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).
         A Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21º lugar entre os 31 participantes daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os resultados eram uma “tragédia para a educação alemã”. A Der Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia com a seguinte manchete de capa: “Os alunos alemães são burros?”. O alvoroço levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.
         No dia do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante, convocou uma coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma “grande vitória” da educação brasileira e um sinal de que “estamos no caminho certo” (rumo ao fundo do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Hadad: “A foto é ruim, mas o filme é muito bom”. Ou seja, a situação atual ainda não é boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era “o primeiro aluno da sala”, o país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer pitoco é um salto enorme.
         Essas reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em VEJA.com, um dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe). Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto. Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.
         Eis o motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85% da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos um desempenho estelar no Piso. Por que, então, o ministro não pode vir a público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo uma boa gestão, a melhor da era petista; não era preciso disso.
         Antes que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de conveniência pessoal, é muito ruim para o país.
         Vocês que me leem há algum tempo sabem que estou convencido de que o grande entrave para a melhoria da qualidade educacional brasileira é o fato de que nossa população está satisfeita com nossa escola (em pesquisa do Inep com amostra representativa de pais de alunos da escola pública, a qualidade do ensino da escola do filho teve uma inacreditável nota média de 8,6. Realidade africana, percepção coreana...). Enquanto a população não demanda nem apoia mudanças, os governantes não têm capital político para encarar a força obstrucionista dos sindicatos de  professores e funcionários (um contingente absurdamente inchado de 5 milhões de pessoas). Excetuando VEJA, este colunista e mais meia dúzia de quixotes, toda a discussão nacional sobre o tema é dominada por mantenedores do status quo. Canais de TV buscam sempre alguma história de superação individual, para dar um contorno feliz a uma história triste. Rádios estão preocupadas com debates inflamados, a despeito da veracidade do que é discutido, quer o assunto seja educação, política ou futebol. Jornais acham que aprofundar um assunto é dar os dois lados da moeda, como se a educação fosse questão de opinião, não de pesquisa. Empresários não querem falar nada que gere conflito; a maioria dos intelectuais é também professor e tem interesses pecuniários; políticos em geral querem se tornar prefeitos ou governadores. Nesse cenário, quem é que vai falar para o brasileiro aquilo que ele não quer ouvir? O candidato natural é o ministro da Educação. Imaginem que fantástico seria se o Mercadante tivesse vindo a público para dizer: “O Brasil foi muito mal no Pisa. Nossos alunos não estão aprendendo o que precisam. Está na hora de encararmos essa realidade. Temos uma enorme crise educacional – o que, na Era do Conhecimento, significa que enfrentamos um gravíssimo problema. Para vencê-lo, todos teremos de arregaçar as mangas e trabalhar mais. Este ministério não administra as escolas, mas estamos à disposição de todos os prefeitos, governadores e secretários de Educação que querem melhorar”.
         Essas palavras poderiam marcar o início de uma nova era. E isso não traria custo político ao ministro. Acho até que geraria benefícios. São palavras de um estadista, de alguém que se preocupa com o futuro de milhões de alunos que hoje estão sendo massacrados por uma sistema educacional inepto.
         P.S.: Depois da comoção de 2000, a Alemanha deu um salto. Neste último Pisa, ficou bem acima de média obtida pelos países da OCDE, abocanhando o 12º em ciências, o 16º em matemática e o 19º em leitura.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irrecuperáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional  –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade; entre  outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

    

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, A DEMOCRACIA E AS PEQUENAS LIÇÕES PARA AS GRANDES MUDANÇAS EM 2014

“Pequenas lições para 2014
        
        O ano que se inicia será um dos mais competitivos das últimas décadas, principalmente na esfera política. As razões apontam para o esgotamento do nosso modelo de fazer política, a partir de velhas práticas de campanhas eleitorais. A impressão final é a de que o retrato desfigurado está a merecer urgente retoque. Fichas-sujas, por exemplo, não podem continuar no mapa eleitoral.
         Os ingredientes que entrarão na composição da nova tintura hão de absorver a química de setores e categorias mais participativas, exigentes e dispostas a enfrentar a resistência de defensores de obsoleta arquitetura política. A coletividade parece descer do céu da abstração para ser uma força na paisagem.
         O curto dicionário abaixo poderá servir de baliza para milhares de candidatos na tentativa de aprimorar suas relações com a comunidade nacional.
         Estado e nação – O Estado, infelizmente, está bastante distante da nação com que os cidadãos sonham. A nação é a pátria que acolhe os filhos; é o hábitat onde as pessoas constroem os pilares da existência. O Estado é a entidade técnico-jurídica, com seu arcabouço de Poderes, pressionada por interesses díspares e dividida por conflitos. Aproximar o Estado da nação, formando o espírito nacional, constitui a missão basilar da política.
         Representação – A representação política é missão, não profissão. A política não é um balcão de negócios. Um representante do povo se preocupa com metas, programas permanentes, medidas estruturantes.
         Identidade – A identidade é a coluna vertebral de um político. É a soma de sua história, de seu pensamento, de suas percepções e de seus feitos.
         Discurso – O discurso deve abrigar propostas concretas, viáveis, simples. E, sobretudo, factíveis. A população dispõe de entidades que a representam. Resta ao político procurar tal universo.
         Grito nas ruas – O grito das ruas faz-se ouvir nos espaços dos Poderes em todas as instâncias. Expressam a vontade de uma nova ordem social e política. Urge abrir os ouvidos e a mente para interpretar o significado de cada movimento.
         Sabedoria – Sabedoria não significa vivacidade. Mescla aprendizagem, compromisso, equilíbrio, busca de conhecimentos, capacidade de convivência, racionalidade. Não é populismo.
         Transparência – A era do esconderijo está agônica. Esconder (mal) feitos é um perigo. A corrupção, mesmo dando sinais de sobrevida, é atacada em muitas frentes. Grandes figuras foram (e continuarão a ser) punidas. O público e o privado começam a ter limites controlados.
         Simplicidade – Despojamento, eis um apreciado conceito. Ser simples não é pegar crianças no colo, comer cachorro-quente na esquina ou gesticular para famílias nas calçadas. A simplicidade está no ato de pensar, dizer e agir com naturalidade. Sem artimanhas nem maquiagens.
         Lição final do filósofo e sociólogo José Ingenieros: “Cem políticos torpes, juntos, não valem um estadista genial”.”

(Gaudêncio Torquato. Jornalista e professor (USP), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 8 de janeiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Calendário do poder (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ano de mudanças
        
         Eis um ano novo de muitas expectativas. A primeira, evitar a volta da inflação. Felizmente não há indício de que veremos o mesmo filme dos últimos meses do governo Sarney, quando a inflação chegou à casa de 80% ao mês. O grave é que a especulação acelera, a produção e as exportações caem, o crescimento do PIB diminui, as privatizações se multiplicam, as desigualdades sociais se acentuam.
         É o ano de comemoração (= fazer memória) dos 50 anos do golpe que derrubou um governo constitucionalmente eleito e instalou a ditadura militar, sem que o paradeiro dos desaparecidos políticos tenha sido esclarecido, nem punidos aqueles que torturaram, assassinaram, sequestraram  em nome e sob a cobertura do Estado, em especial das Forças Armadas.
          Na falta de mais pão, teremos circo: a Copa do Mundo. O Brasil entra manco, sem garra, com um time estressado pela obrigação de fazer dinheiro. Acabou o futebol arte, os efeitos de Didi, os dribles de Tostão, os avanços de Vavá, os gols de Pelé e o balé de Garrincha. Tudo indica que a nossa Seleção vai bater o ponto como boa anfitriã e sair de crista baixa, salvo um milagre, uma zebra que comprove que, em matéria de futebol, Deus também é brasileiro.
         Enfim, este é o ano de passarmos o Brasil a limpo. No dia 5 de outubro, cada eleitor irá às urnas escolher 7 novos servidores públicos: 1 deputado estadual, 1 federal, 1 senador, governador e vice, presidente e vice. Eis a chance de extirpar das assembleias legislativas os deputados de bicheiros e de cartéis, mais interessados em multiplicar o próprio salário que servir à população carente.
         Em Brasília, poderemos passar uma vassoura geral, mandando para o lixo da história deputados e senadores com muitos anos de mandato e pouco serviço, corrompidos por empreiteiras e oligopólios, sem nenhuma visão do que seja cidadania e democracia. Dos governos estaduais os eleitores deverão aposentar as velhas raposas que sofrem de pleonexia – o apetite insaciável de poder, segundo Platão, que entendia de política e de políticos.
         O quadro da sucessão presidencial ainda não está definido, mas eis a hora de evitarmos que o Brasil volte a ser colônia dos EUA, que o salário mínimo seja deteriorado e os programas sociais, que têm tirado milhões da miséria, sejam engavetados em nome da redução de gastos públicos. É melhor um governo que seja mãe dos pobres e pai dos ricos do que um que trate os pobres como madrasta malvada e os ricos como bebês de colo, que precisam de toda atenção e cuidados.
         As eleições de outubro deverão confirmar o aperfeiçoamento da democracia, a valorização da cidadania e, sobretudo, a política como resposta às urgentes demandas sociais, como melhoria da educação, da saúde e do transporte público. Um governo que ouse fazer reforma agrária, promover a desconcentração da renda e redimensionar a dívida pública. Um governo que convoque uma Constituinte exclusiva para a reforma política e faça cessar o desmatamento da Amazônia. Um governo que abra os arquivos da ditadura em mãos das Forças Armadas e reduza a desigualdade social. Sem isso o Brasil terá como futuro imediato o aumento da violência e da miséria.
         Temos tudo para fazer de 2014 um novo ano feliz para a maioria  do povo brasileiro. Vai depender de nossa capacidade de mudar o que de ruim insiste em perdurar, renovar o que de antipopular teima em se repetir e apoiar o que de bom significa transformar.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação  universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a  3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I - a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, competente e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, O TESOURO DO NOSSO MUNDO INTERIOR E A INSUBSTITUÍVEL DISCIPLINA NA ESCOLA

“O tesouro oculto na montanha e a busca do nosso mundo interior
        
         Existia em certa região a crença de que um povo de grande sabedoria a habitara em tempos remotos e deixara um tesouro oculto no alta das montanhas. Afirmava-se que o homem que o encontrasse se tornaria o mais rico do mundo e que ninguém poderia roubar sua fortuna. De geração em geração mantivera-se a fé de que o encontro daquele tesouro atrairia ao lugar prosperidade e harmonia jamais vistas.
         Várias expedições foram empreendidas. Inúmeros rastreamentos e escavações foram feitos, tudo em vão. Os anos iam-se passando e o tesouro ia tornando-se lenda.
         Havia naquela região um jovem muito amado por todos. Também para ele o tesouro parecia inatingível. E, bem-sucedido em tudo a que se dedicava, era inexplicável o sentimento de vazio que sempre o acometia. Movido por imperiosa necessidade de refletir, passou a buscar quietude nas cercanias. No topo de uma montanha próxima dedicava-se a contemplar o Sol. Quase diariamente se dirigia àquele local para ver as luzes silenciosas do crepúsculo ou sentir o chamado à alegria do alvorecer.
         Após algum tempo, o jovem observou que sua insatisfação desaparecera. Um sentido de plenitude havia crescido em seu ser. Passou a observar também, sempre que retornava da montanha, que algumas pessoas o aguardavam no caminho e eram tocadas pelo mesmo estado de paz.
         Numa tarde de primavera, quando a natureza se desdobrava em flores e o céu resplandecia azul, o jovem lembrou-se do tesouro, e os raios do Sol fizeram-no ver o grande legado que quase sem se dar conta encontrara: pensamento luminoso para iluminar seus contatos e ação luminosa para iluminar seu mundo.
         Dentro de si, onde ninguém pode tocar, inextinguível e inviolável, estava o tão procurado tesouro.
         Como seres humanos, vivemos separados da nossa Fonte interior de energia e de luz e isso é que nos faz ingressar nos estados de ânimo corriqueiros. À medida que ampliamos a consciência e nos aproximamos do mundo interior e espiritual, nossas atitudes e interesses vão mudando e nossa vibração se eleva.
         Aquietarmo-nos para buscar esse mundo interior exige persistência, mas não significa deixar de pensar ou de usar a própria vontade. Sucede é que a mente humana e os pensamentos normais, embora continuem a existir, não mais se introduzem na calma que vai surgindo.
         O objetivo dessa busca silenciosa seria conseguir um estado de receptividade mental e emocional que nos permita ser canais para a fluência de uma energia superior, iluminada, inteligente e amorosa. E não, como muitos pensam, usar a mente e a vontade para fazer acontecer algo segundo nossas próprias convicções.
         Um dos primeiros passos para isso é tirar nosso pensamento de pessoas, de lugares e de coisas, do corpo, do dinheiro e de qualquer situação humana. Depois, enviá-lo ao centro da consciência. Se assim fizermos, com calma e persistência, poderemos perceber, dentro de nós, uma Presença que não se compara com nada deste mundo.
         É na luz do mundo interior que encontraremos nossa esperança, nosso rumo e nosso alento. Não nos desviemos jamais. Uma consciência apegada a coisas e imagens terrenas não pode comportar a imensidão de sua realidade interna!
         Muitos pretextos nos trará a mente para desviar-nos do verdadeiro caminho. Portanto, precisamos vigiar.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 5 de janeiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2355 – ano 47 – nº 2, de 8 de janeiro de 2014, página 20, de autoria de Cláudio de Moura Castro, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Bagunça tóxica
        
         Ao serem divulgados os resultados das primeiras provas do Enem, um grande grupo educacional encomendou uma pesquisa com os alunos das dez melhores escolas do Brasil. Pois não é que eram todas bem parecidas? Chamava a atenção o fato de serem muito rígidas na disciplina. Ou seja, nada de bagunça. E entre as instituições públicas, com sua disciplina severa, os colégios militares têm ótimo desempenho.
         Viajando por outras terras, consideremos a França, a Alemanha e a Inglaterra. De lá vieram as mais abundantes colheitas de artistas, filósofos, cientistas, empresários e estadistas. Historicamente, suas escolas sempre foram extraordinariamente rígidas, chegando até a umas varandinhas aqui e umas reguadas acolá.
         Em maio de 1968, os universitários parisienses se rebelaram contra o atraso da universidade, promovendo um evento de espantosa visibilidade mundial. Barricadas na rua, paralelepípedos voando pelos ares, choques retumbantes com a polícia! Ecoava o slogan mais poderoso: “É proibido proibir”.
         As consequências do Maio de 68 varreram o mundo e remoldaram a alma da escola. Muitos manifestantes viraram professores, sentindo-se pouco confortáveis com sua autoridade. A epidemia do “proibido proibir” contaminou a América Latina.
         Em um dos seus primeiros discursos, depois de presidente, Sarkozy chama atenção para a lastimável erosão de autoridade do professor, com suas raízes em 68. O filósofo Luc Ferry, em entrevistas, também rememora a queda da disciplina escolar, resultante de professores inapetentes por manter a ordem na sala de aula. Antes de tudo, porque erodiram as regras de disciplina, claras e compartilhadas. Mas, segundo ele, o pêndulo volta, com as escolas francesas recobrando a capacidade de controlar a baderna.
         Não é preciso muito esforço para verificar a onipresença de problemas de indisciplina nas nossas escolas. Nem falamos de alunos agredindo professores. Há uma incapacidade generalizada dos professores em impedir bagunça nas aulas, sobretudo nas escolas públicas.
         No caso brasileiro, a alma penada de Maio de 68 parece muito presente, embora possa haver outros fatores contribuindo para as dificuldades de manter a disciplina. Aula chata? Quem sabe, a disseminação de uma caricatura  da psicanálise, com seus pavores de que uma disciplina rígida vá frustrar ou traumatizar alunos? Ou uma esquerda que confunde autoridade com autoritarismo? Ou um DNA tropical e insubmisso?
         Mas que consequências teria essa incapacidade da escola para manter a ordem? O professor James Ito-Adler fez para o Positivo uma pesquisa etnográfica – entrevistando uma amostra de alunos. Nela surge a descoberta surpreendente. Quando perguntou aos alunos o que mais atrapalhava o seu aprendizado, a resposta foi enfática: a bagunça dos outros! São os próprios estudantes que clamam por uma disciplina careta. Não é lamento de professor saudosista. Ou seja, os próprios alunos admitem que conversas e turbulência na sala de aula atrapalham os estudos. Resultados espúrios? Não parece, pois pesquisas nos Estados Unidos e na França sugerem o mesmo. A bagunça é tóxica.
         A ideia de que a escola não pode tolher a liberdade dos alunos é falsa. Embora possamos conduzir a discussão de forma mais sofisticada, vale a pena repetir o princípio de que a minha liberdade acaba onde começa a lesar  a liberdade de outrem. No caso, a liberdade dos colegas para estudar e aprender.
         Obrigar o aluno a ficar quieto, quando está com vontade de falar ou saracotear? Ficará traumatizado pela imposição de uma regra autoritária que não tolhe suas manifestações espontâneas? Isso não acontece com os alunos das melhores escolas nem nos países mais pródigos em gente criativa e produtiva.
         A solução começa na cabeça dos professores e diretores. No caso, os professores, no plural. Não basta convencer um. Se todos entenderem que bagunça na aula é inaceitável, mudará o clima da escola. As escolas católicas de Boston recebem alunos de regiões turbulentas e problemáticas. Mas, com olímpica tranquilidade, mantêm um clima de disciplina rígida. Afirma-se que isso explica o desempenho superior de seus alunos.
         Temos de nos livrar da bagunça tóxica.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade; entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e da equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, O MAL-ESTAR DO MUNDO, A ALEGRIA E A FORÇA DA FRATERNIDADE

“Em meio ao mal-estar do mundo, ainda há lugar para a alegria
         
         No meio do inegável mal-estar mundial, irrompeu, surpreendentemente, em 2013, uma figura que nos devolveu esperança: o papa Francisco. Seu primeiro texto oficial leva como título “Exortação Pontifícia ‘Alegria do Evangelho’. Ele vem perpassado pela alegria, pelas categorias do encontro, da proximidade, da misericórdia, da centralidade dos pobres, da beleza, da “revolução da ternura” e da “mística do viver juntos”.
         Tal mensagem faz contraponto à decepção e ao fracasso face às promessas do projeto da modernidade de trazer bem-estar e felicidade para todos. Na verdade, a modernidade está colocando o futuro da espécie em risco por causa do assalto avassalador que continua fazendo sobre os bens e serviços escassos da mãe-terra. Bem diz o papa Francisco: “A sociedade técnica multiplicou as possibilidades de prazer, mas tem grandes dificuldades de engendrar alegria” (Exortação, n. 7). Prazer é coisa dos sentidos. Alegria é coisa do coração. E nosso modo de ser é sem coração.
         Essa alegria brota de um encontro com uma pessoa concreta que lhe suscitou entusiasmo, lhe produziu enlevo e simplesmente o fascinou. É a figura de Jesus de Nazaré. Não se trata daquele Cristo coberto de títulos de pompa e glória que a teologia posterior lhe conferiu. Mas é o Jesus do povo simples e pobre, que trazia palavras de frescor e de fascínio. O papa Francisco testemunha o encontro com essa pessoa. Foi tão arrebatador que mudou sua vida e lhe criou uma fonte inesgotável de alegria e de beleza. Para ele, evangelizar é refazer essa experiência, e a missão da Igreja é resgatar o frescor e o fascínio pela figura de Jesus.
         O papa Francisco não entende o cristianismo como uma doutrina. Mas sim como um encontro pessoal com uma pessoa, com sua causa, com sua luta, com sua capacidade de enfrentar as dificuldades sem fugir delas.
         Na evangelização tradicional, tudo passava pela inteligência intelectual (“intellectus fidei”) expressa pelo credo e pelo catecismo. Em sua versão, papa Francisco defende que a evangelização passa pela inteligência cordial (“intellectus cordis”), porque aí tem sua sede o amor, a misericórdia, a ternura e o frescor da pessoa de Jesus.
         Pois é desse cristianismo que precisamos, capaz de produzir alegria, pois tudo o que nasce verdadeiramente de um encontro profundo e verdadeiro gera a alegria, que ninguém pode tirar.
         Falta-nos em nossa cultura midiática e internética esse espaço do encontro. Para isso, temos que realizar “saídas”, palavra sempre repetida pelo papa. Saída de nós mesmos para o outro, saída para as periferias existenciais (as solidões e os abandonos), saída para o universo dos pobres.
         Assim, nada melhor que lembrar o testemunho de F. Dostoiésvski ao “sair” da “Casa dos Mortos”, na Sibéria: “Às vezes, Deus me envia instantes de paz; nestes instantes, amo e sinto que sou amado; foi em um desses momentos que compus para mim mesmo um credo, onde tudo é caro e sagrado. Esse credo é muito simples. Ei-lo: creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais humano, de mais perfeito do que o Cristo; e eu o digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e nem pode existir. Mais do que isso: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se encontra nele, prefiro ficar com Cristo a ficar com a verdade”.
         O papa Francisco faria suas essas palavras de Dostoiésvski. Não é uma verdade abstrata que preenche a vida, mas o encontro vivo com uma pessoa, com Jesus, o Nazareno. É a partir dele que a verdade se faz verdade. Se 2014 nos trouxer um pouco desse encontro, então teremos cavado uma fonte de onde jorra alegria, que é infinitamente melhor do que qualquer prazer induzido pelo consumo.”

(LEONARDO BOFF. Teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 3 de janeiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 14).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Mensagem do papa Francisco
        
         Em sua primeira mensagem de 2014, no Dia Mundial da Paz, o papa Francisco trata de um tema importante: “Fraternidade, fundamento e caminho da paz”. O texto é fruto de um zelo apostólico que desenha um horizonte luminoso para a humanidade, em busca de rumos novos para a história. A partir de preocupações pastorais, e balizado por sensibilidade missionária, o papa Francisco argumenta sobre a importância fundamental da fraternidade como condição insubstituível para a construção da paz. Resgata e indica o anseio irreprimível pela fraternidade que se hospeda no coração de cada homem e de cada mulher. Um anseio que, em razão de desgastes e de dinâmicas na contramão da solidariedade – como os cenários de violência e corrupção –, fica sepultado no mais recôndito dos corações. E nessa condição impede que cada pessoa seja instrumento da paz pela força do amor fraterno.
         Por sua constituição própria, o coração humano possui um dinamismo que conduz ao caminho da comunhão, superando o sentido inaceitável de ver o outro como concorrente ou inimigo. Imprescindível e prioritário é recuperar a fraternidade como dimensão essencial de cada pessoa, cultivando cotidianamente o exercício que reforça, em cada um, o sentido relacional que define o ser humano. Assim, desenvolve-se a capacidade de tratar cada pessoa como verdadeiro irmão e irmã. Esse exercício, o papa sublinha, se faz primeiramente no seio da família, graças, sobretudo, às funções responsáveis e complementares de cada um dos seus membros, particularmente do pai e da mãe.
         Na mensagem, o papa Francisco afirma categoricamente que “a família é a fonte de toda a fraternidade, sendo, por isso mesmo, também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com seu amor”. Esse entendimento é um convite irrecusável a cada membro de cada família, sobretudo para o pai e a mãe, a pensar muito seriamente em seu papel, seu modo de conduzir a vida em família. Não se pode querer construir a paz sem compreender e sem se comprometer com o próprio núcleo familiar. Cada família tem um papel decisivo na configuração da fraternidade universal. Todos precisam investir nesse núcleo celular, convencidos de que daí vem uma força notável, decisiva na formação da consciência relacional que é condição para se alcançar a paz.
         O papa Francisco cita Bento XVI que, em certa oportunidade, lembrou que a globalização torna cada um vizinho do outro sem, necessariamente, converter essa proximidade em sentimentos fraternos. Há uma permanente luta a ser travada contra ideologias que reforçam o individualismo, egocentrismo e o consumismo materialista, que debilitam laços sociais e alimentam a mentalidade do descartável. Essas ideologias conduzem ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que, nessa distorcida visão de mundo, “são considerados como inúteis”.
         É urgente, portanto, multiplicar, pela célula familiar, experiências – pequenas, grandes, simples, cotidianas – de práticas que permitam a aprendizagem e a criação do gosto por uma ética que capacite cada pessoa a produzir e a manter vínculos. Sem essa prioridade, nem mesmo com outras ações, projetos e programas, não se poderá desenhar um cenário de paz. As lamentações aumentarão, os absurdos hediondos de todo tipo continuarão a acontecer, o medo vai empurrar todo mundo cada vez mais para dentro de guetos de segregação, desconfiança e preconceitos. Comprometida estará, cada vez mais, a fraternidade universal. Não se alcançará um nível razoável de solidariedade, com força para mudar o que faz parte de uma ladainha interminável de reclamações, necessidades e reivindicações.
         Esse exercício de construir vínculos pode começar por uma interrogação que deve interpelar a consciência de cada um –aquela pergunta de Deus a Caim, querendo saber de Abel: “Onde está teu irmão?” Uma pergunta que, respondida, reforça a convicção que salvará o mundo e fará dele um lugar de paz. “Somos todos irmãos”, ensina a mensagem do papa Francisco.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional – , transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...
  


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, A AMPLITUDE DA VIDA INTERIOR E A SABEDORIA NO ANO NOVO (55/5)

(Janeiro = mês 55; faltam 5 meses para a Copa do Mundo)

“Vislumbres da vida interior e o despertar da nossa consciência
        
         Em nossos dias, um intenso estímulo evolutivo, espiritual, permeia grupos cada vez maiores, buscando conduzi-los a mudanças profundas na vida e na conduta que manifestam em seu cotidiano. Os que despertam veem descortinarem-se à sua frente horizontes luminosos, enquanto outros, ainda adormecidos, prosseguem olhando para trás.
         Assim como a chama surge do fogo, é a vida interior que desperta e prepara nossa consciência humana para assumir funções junto a Deus, em contato com as hostes angelicais e as Hierarquias espirituais.
         No caminho interior é preciso termos presente que a consciência não é iluminada por inteiro de uma só vez. O clareamento e a ampliação realizam-se aos poucos, com cuidado, à medida que a energia da aura se ajusta a cada passo que a alma vai dando. Num certo sentido, é como penetrar em uma floresta jamais desbravada. Conforme nela se ingressa, o caminho trilhado abre frestas para que a luz chegue onde se está e, com persistência e paciência, removem-se os obstáculos e percebe-se quando reunir energias para novos avanços. Além disso, nessa penetração tem-se de evitar áreas em que animais nocivos possam ser encontrados. E é preciso, sobretudo, empreender essa grande aventura como alguém que vive plenamente o que ela significa.
         Nesse caminho, é bom lembrarmos que oferta ao serviço impessoal é um fator benéfico e equilibrador em nossas vidas. Isso ocorre pela intensa estimulação advinda da própria alma, em decorrência da dedicação abnegada e da autodisciplina externa normalmente requerida no cumprimento das tarefas. Nesse sentido, o serviço torna-se um importante exercício espiritual.
         À medida que avançamos no autoconhecimento, vamos aprendendo a reconhecer o puro como puro e o turvo como turvo, sem com isso emitir julgamento algum. Trabalhamos  para que a consciência cresça em discernimento e sabedoria, segundo a Lei de Deus. E essa mesma Lei se revela em cada etapa do caminho conforme as possibilidades do nosso entendimento. Se observarmos as grandes superações conseguidas sobre as forças da matéria por indivíduos tidos como santos, iluminados ou guias da humanidade, poderemos  vislumbrar a perfeição que aguarda a humanidade. Todavia, para que o “velho homem” seja transcendido e nos transformemos em nossa realidade profunda, são fundamentais a decisão, o ímpeto e a tenacidade em avançar.
         O nosso papel como humanidade ainda está por ser reconhecido. O universo físico do cosmos é um grande oceano de vida e energia, e conta com a humanidade para expandir-se. Em vez de explorarmos a vida e os elementos da Natureza – como vimos fazendo –, seria preciso que nos unificássemos à meta a qual a vida planetária deve atingir. Estado a Natureza fundada na energia da sabedoria, ao compreendê-la e contribuir para sua evolução, a humanidade não se desviaria do caminho, pois essa energia conhece o destino de tudo o que vive, e a todos conduz corretamente.
         Mesmo nesses tempos de grande desequilíbrio, podemos ver que na Terra o reino vegetal, por ser receptivo às suas metas internas, espirituais, é canal de expressão da beleza e atua como um potente vórtice purificador de energias. Todos os reinos da Natureza podem chegar a essa harmonia. Profundamente belo é o universo em que os seres que nele evoluem respondem adequadamente a padrões superiores.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 29 de dezembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 14).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de SACHA CALMON, que é advogado, coordenador da especialização em direito tributário das Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG, presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF) no Rio de Janeiro, e que merece igualmente integral transcrição:

“Feliz ano novo
        
         Boas-novas para todos neste ano de 2014, boa sorte para os viventes, boa morte para os moribundos. No Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, há uma frase latina no seu pórtico magestoso: morituri mortuis. Em vernáculo, longe do viés sintético da língua dos Césares, em tradução expressiva, significa “dos que vão morrer aos mortos”. É uma saudação amigável e profunda a nos unificar no que é radicalmente comum à condição humana: a morte. Diante dela cabe encará-la com a sensibilidade do poeta Manuel Bandeira, depois de uma vida honesta, no poema “Consoada”: “Quando a indesejada das gentes chegar (não sei se dura ou caroável), Talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: - Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar”.
         Melhor imitarmos o filósofo grego Epicuro em sua carta a Meneceu: “A morte não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente,  nós é que não estamos”. Dia a dia as gerações se sucedem desde que o mundo é mundo. Um belo espetáculo não isento de poesia e dor. Que nos venha o fim. Depois dele, seja lá como for, sono perpétuo ou gozosa imortalidade na mente de Deus, nada temos a temer perante a sua grandeza. Deus não tem psicologia humana, não odeia, não julga, não pune, acolhe! Os temores estão nesse vale de lágrimas em que se desenrolam as nossas vicissitudes. Cada um sabe dos seus prazeres fugazes e de suas dores, ilusões e desilusões. É aqui que devemos seguir as lições de Jesus ou Maomé, nos amarmos uns aos outros. Este ano – de Copa do Mundo no Brasil – deveríamos considerar que a paixão esportiva é uma coisa boa e lúdica, como a arte, o cinema, o teatro, modos de bem viver e conviver, nunca o sucedâneo da guerra com sua carga de ódio e sectarismo. Em 2013 a violência em nossos estádios mostrou um povo bárbaro, sem rumo nem sabedoria, apenas com ódio no coração a se matar e mutilar em batalhas inglórias.
         Inspirou a crônica o depoimento dos brasileiros que foram ao Marrocos esperando encontrar um povo belicoso e uma sociedade semibárbara. Mas os berberes – durante 780 anos – dominaram e criaram parte significativa da cultura ibérica, à qual, em parte, pertencemos e de modo superior aos dominantes visigodos, após a queda de Roma, e, portanto, não poderiam ser o que deles se imaginava. Além disso, ganharam a partida de futebol dos brasileiros, com civilidade e até mesmo compaixão pela nossa tristeza.
         Em sua coluna, Helvécio Carlos (EM) dá-nos depoimentos edificantes de torcedores que foram de um jeito e voltaram melhores. Escolhi um: Eduardo Coelho, que viajou para o Marrocos, revelou que os africanos, além da garra no futebol, têm muito a nos ensinar. “Nunca, em qualquer lugar ou situação da minha vida, encontrei pessoas tão gentis, educadas e cheias de verdadeiro espírito esportivo – o que deveria fazer parte de cada um de nós. Em todos esses dias em Marrakesh, cruzando com centenas de torcedores do Raja Casablanca, passando por eles nas ruas, nas praças e no estádio, não vi um único sinal de hostilidade, uma única demonstração de raiva ou violência nem mesmo depois da vitória deles. Não vi nenhuma criança ou adulto mandando dedão como quem xinga, ou tapinha na mão fechada como quem diz ‘f...’. Nada. Pelo contrário. O que vi por aqui foi alegria, foi celebração, foi preocupação com o próprio time e tratar com respeito e gigantesca educação e alegria todos os outros adversários. Pedidos de fotos, cumprimentos, abraços. Algo inimaginável por aí.” Fã dos marroquinos, Eduardo conclui: “Disputar um mundial é para quem já fez algo grande no ano, e perder não é vergonha. Vergonha é lembrar a violência absurda das torcidas no Brasil, o ódio gratuito que as pessoas sentem por outras apenas por usar uma camisa de outra cor, a covardia de quem chuta um cara caído no chão, a total falta de lei e respeito que contamina tudo em nosso país. Estamos tristes, claro! Mas futebol nada mais é que diversão. Valeu demais pela viagem e pela oportunidade de conhecer essa gente que nos deu uma verdadeira lição de comportamento”.
         Tirem sua conclusões sobre educação, esporte, política e a difícil arte de viver e conviver respeitando o outro. Em tempo: os marroquinos são muçulmanos!”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; comunicações; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte  de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...